segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Imperius Rex, Dei Est - 24.


“IMPERIUS REX, DEI EST”.
Autor: Marcos De Chiara - Direitos Reservados.
Fanfiction de Jornada nas Estrelas.
Star Trek criação de Wesley E. Rondenberry.

Capítulo XXIV.

“Data Estelar 4058.2- diário particular do capitão: Estamos no quarto dia de nossa missão e não sabemos se o que estaremos prestes a fazer é o mais certo. Um capitão da Frota deve usar seu melhor julgamento para completar sua missão da melhor maneira possível sem infringir nenhum regulamento da Federação ou qualquer outro tratado intergaláctico, o que é quase impossível. Agora entendo porque criticam tanto James Kirk . Sentar em uma cadeira na ponte de comando de uma nave estelar não era para qualquer um. Nem sempre temos a melhor saída para uma situação; as vezes temos sorte de ter alguma saída.

Quando Kirk visitou este planeta ele sabia que para cumprir sua missão deveria se envolver mais e por em risco seus homens e sua carreira. Decidiu deixar entregue a sua própria sorte. Consideram-no negligente, mas eu começo a achá-lo inteligente; mais do que eu, que procuro sempre seguir as regras e agora estou prestes a quebrar quase todas. Não encontro outra saída. Será que há realmente alguma ?”

Goldman termina seu diário e acende seu Chanukiá, um presente de sua mãe quando de sua formatura na academia, ele simboliza a luz que guiará seus passos servindo de um farol para voltar para casa com segurança. Há muito não o acendia e nem pensava em religião. Seu desapontamento com Deus em relação com os fatos dolorosos de sua vida o impediam de vivenciar sua religiosidade. Mas a atual missão o levara para o meio de uma guerra religiosa, uma verdadeira intifada, e ele se questionava sobre a inconsistência filosófica daquele momento. Seu próprio planeta sofreu muito com guerras religiosas, o povo do qual fazia parte sobreviveu à várias delas.

Após uma prece tirou seu uniforme e tomou uma ducha. Em seguida vestiu o uniforme cinza de tropa de assalto e seguiu para a ponte de comando a fim de analizar, mais uma vez, a tática da batalha que estava por vir. Ao sair do turboelevador vê Bergman sentado em sua cadeira, já vestido para ocasião, discutindo algum detalhe com o Tenente Tagushi. A Dra. Andrews também estava lá. Eram sete horas da manhã. Quanto mais cedo começassem, melhor. Bergman o vê e cede o lugar.

“Espero que tenha descansado, capitão. Teremos momentos muito agitados pela frente.”

“Obrigado pela preocupação, número um. Já recuperei as forças. Dra. Andrews... espero que leve seu kit médico particular.”

“Não saio sem ele, senhor.”

Bergman fica curioso com a conversa de seus colegas, mas não arrisca nenhuma pergunta.

“A propósito, Dra., como vai o alferes Rodrigues?”

“Quase o perdemos, capitão. Ele perdeu muito sangue e seu braço ficou muito mutilado para que pudéssemos reconstituí-lo. Conseguimos eliminar qualquer foco de infecção e uma cirurgia para implante de um braço cibernético está marcada para daqui à duas horas.”

“Ele é um rapaz valente e vai superar isso. Constará nos registros uma comenda por bravura. A sra. prefere ficar e supervisionar a cirurgia?”

“Senhor, tenho uma equipe muito eficiente que não precisa de minha presença para executarem bem suas tarefas. Alguma objeção à minha presença no grupo de descida ?

Goldman poderia dizer sim. Poderia dizer que ela era uma médica muito boa para se arriscar em uma batalha ou que sua presença causava uma inexplicável insegurança no primeiro-oficial ou que ele queria protegê-la como um namorado protegeria sua amada.

“Não, claro que não, desde que esteja pronta na sala de transportes em dez minutos.”

“Estarei lá.”- a Dra. dá às costas e deixa a ponte.

“O que tem para mim, número um ?”

“Bom, senor, temos boas chances de sucesso. Nossos homens estarão com coletes de neo-flex que suportam o mais grosso calibre deles. Usaremos capacetes também além de phasers tipo dois. Conseguimos a planta do palácio e da prisão central. Existem duas alas separadas para presos especiais e mais quatro para presos comuns onde eu e o tenente Marino ficamos detidos. O complexo não é muito grande. Parece que a criminalidade está em baixa ou os presos não ficam muito tempo em celas.”

“Então nos concentraremos nestas duas alas.”

“Foi o que pensei. A primeira sondagem mostra segurança reforçada... Uns oito homens. Podemos dominar a situação em três minutos. Se encontrarmos alguém da Beagle poderemos trazê-los em segurança rapidamente antes que os reforços deles cheguem.”

“Algum sistema de vigilância eletrônica ?”

“Nenhuma detectada. Eles devem usar turnos de vigilância. Deveremos estar longe quando eles derem conta do que aconteceu.”

“Parece muito bom. E quanto aos Filhos do Sol ? “

“Bom... esta é a parte difícil. A maioria se recusou a pegar em armas. Só os recém-convertidos é que aceitaram; dentre eles estão ex-gladiadores. Isto nos deixa com uma dúzia de homens.”
“O incrível exército de Brancaleone.” - comenta o capitão em tom jocoso.

“Perdão, senhor, eu não entendi.”

“É um filme realizado no século XX por um cineasta italiano chamado Mario Monicelli. Falava da época dos cavaleiros andantes, das cruzadas e da tolice das guerras.”

“Não sabia que o senhor gostava de filmes antigos”.

“Este eu vi na filmateca da Universidade de Telaviv em um antigo aparelho de DVD recuperado do século XXI. Neste filme um pequeno exército de homens sem preparo tenta enfrentar um exército experiente”.

“Ah, entendi ! Mas eles não tinham o apoio da Frota Estelar , não é ?”

“É claro que não, imediato. Qual o seu plano para eles ?”

“Julius comandará estes homens, que estarão com sub-metralhadoras e uniforme do exército romano, seguindo então para a segunda frente de batalha.”

“Segunda ? Acho que está arriscando muito. Ninguém faz uma guerra em duas frentes. Napoleão e Hitler tentaram e foram derrotados.”

“Mas eles não tinham a tecnologia, as nossas fontes de reserva e o elemento surpresa”.

“Que segunda frente é essa?” - o imediato se dirige a um painel para demonstrar seu plano. Goldman o acompanhou curioso.

“Durante à noite conseguimos sondar uma área no equador do planeta que nos deixou muito surpresos. Sr. Akwe passe a imagem que gravamos. O senhor verá que uma imagem...”

“... é mais poderosa do que mil palavras. Eu conheço a expressão, comandante, prossiga.” - completa Goldman impaciente com o prolixismo.

Surge na tela a imagem do planeta catalogado como 892-IV; mostrando todo o equador. Uma maior magnificação da imagem e se vê uma grande área desmatada, com relevo modificado; o que denotava a ação do homem, mas sem muita definição. Uma nova aproximação e um grande complexo de prédios, estradas e torres aparecem. O que chama a atenção é um grande foguete pronto para ser disparado. Aquele só podia ser o grande sonho de Claudius Marcus a que o comodoro se referia.

“Eles poderiam construir isto ?” - indaga o capitão já prevendo a resposta.

“Não com o atual conhecimento tecnológico. A construção de foguetes levaria anos. Eles nem usam balões. Segundo suas crenças, o céu é sagrado e voar é uma proibição dos deuses.” - explica Bergman.

“Então o novo imperador irá se expor à ira dos deuses?”

“Talvez ele queira criar um novo panteão.” - intervém Akwe.

O capitão estava contente com as novas informações. Pelo menos o tranquilizava quanto à quebra da primeira diretriz.

“Está claro então que eles tiveram ajuda externa e para concluir tal obra existiria ainda algum tripulante da Beagle lá embaixo”.

“Não necessariamente, capitão.”- se intromete na conversa o oficial de ciências.

“Explique.” - solicita Goldman em um tom grave. O que será que ele queria dizer com isso ?

“Os romanos são um povo muito inteligente. Podem ter conseguido as informações necessárias, eliminando os informantes e depois seguiram sozinhos no projeto”.

“Sua hipótese é válida, mas acredito, sem fundamento. Claudius não deixaria uma fonte dessa secar. Ele parece deslumbrado demais pela nossa tecnologia a ponto de ter dado um golpe militar por conta disso. Ele não faria isso sem ter um trunfo. Alguém da Beagle. Alguém muito esperto para continuar vivendo em troca de liberar informações aos poucos. Creio que isso era feito pelo capitão Merrick e agora ele foi substituído por outro.” - rebate Goldman conjecturando um novo cenário.

“Quanto a ajuda externa isso ficou evidente. A nossa pesquisa demonstrou que nos últimos cinco anos grandes conquistas tecnológicas foram obtidas e isto foi o carro chefe da política do cônsul Claudius. Os armamentos evoluíram de espingardas e revólveres para armas automáticas extremamente eficientes. O fato de equipararmos as coisas pode ser interpretado como uma necessidade de equilibrar as forças no planeta minimizando a interferência externa.” - Bergman procurava dar justificativas para a possível quebra da primeira diretriz.

“Senhor ?” - chama a atenção do capitão o alferes Akwe.

“Sim, alferes ?”

“Recebo mais transmissões da TV deles. Hoje às dezesseis horas o foguete será lançado dando início a um programa espacial. Parece que lançarão um satélite de comunicações chamado de Mercúrio Um”.

“Este é o alvo dos Filhos do Sol ?” - pergunta Goldman para o imediato.

“Sim. Eles acham que ao sabotarem o foguete a credibilidade do cônsul ruirá”.

Seria um grande feito para um pequeno grupo de rebeldes, mas Goldman não poderia abandoná-los neste momento. Sentia-se responsável pelas proporções que os eventos tomaram.
“Temos que dar apoio logístico à eles. Não conseguirão êxito contra um exército bem treinado. Apesar de sermos uma tripulação de uma nave científica temos que estar prontos para este tipo de conflito também. Já que nos comprometemos agora vamos até o fim. Vai ser um bom treinamento para os cadetes.”

“Destaquei dez homens para ajudar Julius e Septimus. Inclui no grupo os tenentes Yuchenko, Baudelaire e Jamal. Eles poderão sabotar o foguete sem causar um grande desastre minimizando também possíveis baixas para o outro lado.”

“Muito bem, número Um. Você, eu, o comodoro e a Dra. Andrews vamos para a prisão central. Tenente Tagushi... A cadeira é sua de novo. Se tudo der errado quero que saia de órbita e peça ajuda à Frota. Nada de tentativas de resgate. Somos poucos contra uma civilização extremamente ardilosa e impiedosa, fui claro?”

“Cristalino como água, senhor.” - responde o engenheiro-chefe já se preparando para mais horas de angústia sentado naquela cadeira.

“Capitão, devo comunicá-lo sobre o grande perigo que envolve a missão e que não há necessidade que se arrisque lá embaixo.” - diz Bergman quando o capitão se dirigia para o turbo elevador.

“Comunicação anotada, mas eu irei assim mesmo. Sei que terei um bom guarda-costas.” - Bergman sorri. Sabia que seu capitão agiria assim. Mas os protocolos de segurança o levaram a agir como agiu. Ele respeitava a audácia de seu capitão que demonstrava, muita para um homem de sua idade.

Deixaram a ponte seguindo para a sala de transportes. Ao chegarem Goldman se surpreende ao ver Lucília com um uniforme da Aries.

“O que ela faz aqui ? “ - pergunta demonstrando uma irritação. Bergman se apressa a dar uma explicação, mas é interrompido pelo comodoro antes mesmo de abrir a boca.

“Ela pode reconhecer alguns tripulantes da Beagle. Apesar de termos os registros na nave mercante antes de sua última viagem suas fisionomias podem ter mudado um pouco nestes últimos anos. Principalmente quando se vive como prisioneiros e em condições precárias.”

“Eu não posso permitir que ela arrisque sua vida. Pense no seu filho, senhora, ele depende de você.”

“Eu já me decidi, capitão. É o mínimo que eu posso fazer pelo meu povo e pelo seu. Quanto ao futuro de meu filho, eu creio que ele está em boas mãos. Se algo me acontecer gostaria que ele pensasse em sua mãe como uma pessoa determinada em buscar uma vida melhor a todo custo.”

“A senhora é muito corajosa.” - elogia Goldman, sabendo que não conseguiria dissuadir aquela mulher de grande fibra.

A dra. Andrews se aproximou trazendo informações que tranquilizaram o capitão quanto à segurança de toda a equipe descida.

“Coloquei transponder em todos, mesmo nos nativos. Quando os sinais vitais caírem a um ponto crítico eles serão transportados de volta para cá; direto para a enfermaria. Caso precisem de uma saída rápida em situações difíceis , eles contarão ainda com hiposprays para aplicarem em si para baixarem seus metabolismos e forçarem o transporte. Não se preocupe.”

“Se não tivesse confiança em minha equipe, em quem mais teria?“ - sorri Goldman para a doutora. Seguiu para a plataforma de transporte com o resto do grupo. Aos poucos todos foram transportados. Ao todo eram trinta. Vinte delas se juntariam aos doze dos Filhos do Sol que esperavam nos pontos de encontro; o restante era parte da equipe alfa do capitão.

A batalha entre os novos deuses estava tendo início.

Texto por: Marcos De Chiara.

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