domingo, 19 de janeiro de 2014

FB 1 - Mudando as Regras - 8.


FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Mudando as Regras – Parte I
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma
Por Marcos De Chiara

Capítulo VIII

Na primeira reunião de trabalho, todos os chefes de departamento da Albedo estavam presentes, como também o Almirante Petersen, o vice-Almirante Ross, o Comandante Bennet e o Tenente Brixx, que leu um relatório da inteligência sobre os últimos acontecimentos importantes próximos a fronteira de Cardassia e o sistema bajoriano.

_Finalmente o governo bajoriano assinou o tratado de paz com Cardassia. O grande mediador, Vedek Bareil, infelizmente, morreu logo após devido às conseqüências de um atentado que sofrera. Contudo isto não agradou a todos. Especialmente aos maquis. Eles aumentaram suas atividades na última semana dando trabalho ao comandante Sisko da DS9. A nossa inteligência nos informa que a Ordem Obsidiana também não ficou muito contente com o tratado e tem agido sem a anuência do governo central. Temem que Bajor entre para a Federação e eles percam sua influência no setor. Há rumores que estejam flertando com o Dominion. Não sabemos se é para arrancar-lhes informações ou para criar uma aliança. Paralelamente, e misteriosamente, também estão  em contato estreito com o Tal Shiar.

_Eles parecem que estão tentando se precaver dos dois lados. De qualquer maneira isso seria um perigo para o setor. Se os romulanos e cardassianos atacassem o Dominion eles viriam com tudo para cima de nós e precipitaria a guerra. Se, por outro lado, resolverem se aliar ao Dominion.... Deus nos ajude! – comenta Sarah.

_Os senhores podem ver que estarão andando sobre brasas quentes. As relações estão muito delicadas por aqui. As civilizações que podemos contatar no quadrante Gamma não nos apóiam por medo da reação do Dominion e outras, primitivas, devido a nossa primeira diretriz, não nos permite alertá-los do perigo. – informa o almirante Ross.

_Onde exatamente nós nos encaixamos, senhor? – pergunta Alkon.

_Temos a missão de minar as forças do Dominion. Afetar sua força militar e comercial. Enfraquecê-los ao máximo antes que..._explicava Petersen quando Bennet completou:

_...a guerra se inicie. Todas as nossas fontes dizem que ela é inevitável. Portanto vamos torná-la possível de se vencer.

_Os senhores acreditam que minando as suas forças isso poderá fazê-los ficar abertos a um diálogo diplomático? – Sarah pensou que houvesse alguma chance de evitar o conflito.

_É  uma tática perigosa. Não conhecemos a força deste Dominion. Pressioná-los pode não ser a melhor opção. – se manifestou Klag.

_Depois do que eles foram capazes de fazer com a Odissey, nós vimos que o diálogo não é possível neste momento. O senhor, como klingon, deve saber que, quando confrontamos um inimigo, não podemos demonstrar fraqueza. O Dominion não respeita quem é mais fraco do que eles. Nós não podemos abrir a guarda. – esclareceu Petersen.

_Esta ação poderá chamar atenção dos nossos aliados e fazer o caldeirão fervilhar mais. – comenta Alkon.

_Por isso estamos tomando uma série de medidas de segurança e sigilo sobre esta missão. Peço aos senhores paciência e acatem as nossas ordens sem discussão. – diz Petersen olhando para Alkon, já sabendo que ele não estava se sentindo muito  à vontade em seguir nesta missão.

Alkon sentiu um certo receio de Petersen sobre ele e sua tripulação. Ficou tentado em ler a sua mente, mas sua ética não permitiu. Brevemente toda a sua ética não seria suficiente para bloquear os pensamentos dos que o cercavam, assim que os efeitos de seu bloqueador sináptico desaparecessem.

_O senhor pode ficar tranqüilo, almirante. Sabemos acatar ordens. Creio que seja por isso que nos escolheram e não cadetes recém saídos da academia.

_Não se ofenda, capitão, mas a sua tripulação tem fama de... – o Almirante Ross tenta remediar o mal entendido, mas não obtém sucesso.

_Eu não sei que tipo de informações os senhores têm ao nosso respeito, mas eu garanto que nós sempre defendemos os princípios da Federação e os regulamentos da Frota Estelar, sendo obedientes, fiéis e leais a eles; como seria de se esperar de qualquer oficial. Se não há mais nada a ser reportado, peço permissão para nos ausentar.

Petersen olhou para os seus colegas que balançaram negativamente com a cabeça. A única coisa que pôde dizer foi:

_Dispensados.

Quando o pessoal da Albedo sai, Ross tece um comentário.

_Eles irão nos dar trabalho.

_Você está aqui para que isso não ocorra. Espero que você tenha sucesso. Para o nosso bem. – alerta Petersen.

Bennet olhou de soslaio para o colega que não estava nada satisfeito em ter lidar com aquela tripulação.

...

“Diário pessoal, data estelar 48483.2 – O treinamento continua árduo para muitos de nós. Não tinha idéia como estava enferrujada. Após um mês de treinamento, os meus músculos parecem não mais responderem a minha vontade, tão pouco às ordens da Comandante Okaido ou o sádico do Klag. O grandão sempre foi um cara reservado, mas agora parece ter encontrado uma posição para extravasar suas emoções reprimidas. Para piorar as coisas estamos proibidos de usar os sintetizadores. Apenas estão nos servindo ração padrão da Frota. Aqueles dois quilinhos a mais, que sempre me preocupavam, foram expulsos de meu corpo com mais três amiguinhos. Se continuar assim precisarei de um uniforme com um número menor”.

“Agora vou tentar dormir um pouco. Nunca sabemos a que horas iremos acordar. Podemos dormir quatro horas ou apenas vinte minutos. Isto faz parte do programa de treinamento. Pelo menos é o que a comandante diz. Quanto tempo será que ela dorme? Allison desliga.”

...

“Diário pessoal, data estelar 48499.3 – Estamos apenas na metade do treinamento e parece que ele não vai acabar nunca. O comandante Bennett tem criado holo-programas bastante realistas. Hoje consegui até matar um Jem’Hadar, antes que outros quatro me trucidassem. Estou melhorando. Antes eu nem podia vê-los até ser tarde demais. Eles parecem possuir uma capacidade de se camuflarem no ambiente. A comandante me cumprimentou e disse que sou um grande candidato a ganhar a estrela da Federação(1). Acho que ela estava sendo sarcástica. 

Zagar me preocupa muito. O garoto tem se esforçado à beça e se arrasta, literalmente, para cumprir suas tarefas. Se não fosse pela sua inteligência e habilidades em baixa gravidade, já teria sido cortado do esquadrão. Nos disseram que formarão duas equipes de elite para formar os grupos avançados. Os oito melhores serão selecionados e espero não estar entre eles, mas minha memória sempre me trai e acabo lembrando o que fazer corretamente a cada minuto e, num impulso incontrolável, não consigo errar ou fingir para mim mesmo.

O mais interessante tem sido usar os novos armamentos. Nunca havia usado um rifle phaser tipo IV ou explosivos que liberavam magnasita para derreter placas de duranium ou utilizar sua radiação para bloquear emissões de phasers ou transportes. O que mais a Frota tem para revelar? 

Acredito que esta guerra em que vão nos meter será uma das mais sujas e temo que deve ter muita gente na Frota ansiosa por isso.

Oh...Estão nos chamando para o refeitório. Esta é melhor parte do dia. O que será que temos para o café? Será que a Allison vai me dar a sua ração de novo ? McCormick desliga.”

...

“Querido pai. Não sei quando você poderá receber esta minha carta, mas escrever para você faz com que eu fique mais tranqüila. Pelo menos terei alguém para partilhar as minhas preocupações. Fazer diários pessoais nunca foi um hábito meu , mas sei o quanto isto pode ser relaxante e sugeri isto a chefia de instrução, que acatou prontamente”.

Um dos momentos mais difíceis em minha estadia na base foi logo no primeiro dia, quando tive que dispensar os vinte e seis civis; pessoal da área científica, manutenção e da cozinha;  e quatorze oficiais da nave que não se encaixavam no perfil requerido pela inteligência da Frota. Não que estes não tivessem seus méritos, mas possuíam uma família para retornar. Eram pais, mães, maridos e esposas. Isto me deu uma clara noção de que as nossas missões poderão ser uma viagem com bilhete só de ida. Nunca fui de deixar o medo dominar minhas ações, mas confesso que estou apavorada.

Já falei sobre Dorn, o nosso barman? Ele é uma pessoa adorável, mas por ser civil e não ligado à Frota ou a Federação não poderia continuar conosco e tive que dispensá-lo também. Soube que ele ficou bem triste, mas ordens são ordens. Este é o peso que um comandante deve carregar. Seguir ordens acima dos desejos pessoais. Para mim é difícil deixar o coração de lado. Por falar nisso, já lhe falei de Dorian?”  Não, espere...Computador...Apagar a última frase. Acho que papai ainda não está pronto para saber que pode ganhar um genro. Sinto tantas saudades dele que tenho sonhado com ele todas as noites. Acho que vou tomar um banho frio hoje. Computador recomeçar a gravação.

“Guardarei esta carta junto com as outras e as enviarei assim que puder e deixarem. Beijos da sua Sarah”.

...

“Diário do esquadrão Nova, número oito. Data estelar 48509.7 – Ontem, durante minha sessão com a doutora T´Vel, fui obrigado a readmitir o luriano Dorn ao nosso esquadrão. Ela, a princípio, mostrou-me um gráfico de rendimento da moral da tripulação que estava em uma linha decrescente. Alegou que a presença dele melhorava a eficiência da tropa que antes era mais feliz quando ouvia as suas histórias e piadas.  Depois me mostrou um relatório dos níveis de serotonina, o hormônio da felicidade, em níveis baixíssimos. Mas o que me convenceu mesmo foi vê-lo bêbado e choramingando no bar da estação. Ele havia entrado em depressão por ter sido rejeitado e consumiu duas caixas de conhaque sauriano. Ele deu muito trabalho. Foram preciso dez homens para imobilizá-lo e o levarem para a ala de detenção. Levei o caso ao Almirante Petersen e mostrei os gráficos da dra. T´Vel e resolvemos os dois problemas readmitindo ele no grupo. Ele passou de taifeiro honorário para cadete honorário. Algo que o fez muito feliz. E para não parecer que fizemos isso apenas por piedade, o colocamos no programa de treinamento. Seu ânimo contagiou rapidamente os seus colegas que aumentaram sua eficiência nos treinamentos. A dra. estava certa uma vez mais.

Devo dizer que eu mesmo estou feliz. Hoje, pela manhã, recuperei meus poderes psicocinéticos.  Só preciso controlá-los melhor. Tentei me servir de um copo com água, mas acabei arremessando-o contra a parede. T´Vel sugeriu que fizesse, na sessão de hoje, uma tarefa simples: colocar uma mesa de jantar com a mente. Só não foi perfeito porque, no último momento, derramei vinho na toalha e, ao me frustrar, deixei a garrafa cair. Mas já é um grande progresso para um macho betazóide.

A Dra. T´Vel acha que, quanto mais eu repetir o treinamento, mais terei o domínio sobre as minhas habilidades. Só não sei se serei capaz de usá-las em combate. Terei que falar com o comandante Bennett para ele projetar um cenário para mim no holodeck. O difícil é fazer as vozes se calarem depois que deixei de usar o meu bloqueador sináptico. Por isso tenho que ficar isolado o tempo todo. Ficar perto de uma pessoa é o mesmo que me obrigar a ler seus pensamentos. E alguns são muito dolorosos para mim. Sinto falta do convívio com a tripulação. Estão todos tão ocupados no dia-a-dia que nem nos falamos e até mesmo as refeições não podemos compartilhar mais. Tenho me alimentado em meu alojamento, sozinho. Na nave, na maioria das vezes, comia junto com os oficiais menos graduados para manter uma certa empatia com a tripulação. O único contato que tenho com a minha tripulação é através de relatórios. Computador parar gravação.”
A melancolia tomou conta de Alkon. Ele queria poder dizer que o que sentia mais falta era de poder estar com Sarah. Ele precisava arrumar um jeito de poder vê-la. Já fazia quase um mês e meio desde que se beijaram pela última vez. Ela deveria estar pensando que ele tinha perdido o interesse. Ela não sabia o real motivo de seu confinamento. A doutora estava proibida de revelar seu treinamento para qualquer outra pessoa. Talvez, se ele se concentrasse o suficiente, poderia mandar uma mensagem em seus sonhos, enquanto ela dormia. Alkon ficou a pensar o que ela estaria fazendo. Será que ela pensava nele também?

...

“Diário da engenheira-chefe Naomi Silva. – A equipe que trabalha no upgrade da Albedo é incrível. Não acredito que realizamos tanto em tão pouco tempo. O almirante Petersen, um dos idealizadores do projeto original, já havia preparado tudo meses atrás e teve carta branca da Frota para implementar todas as novidades da tecnologia de vários mundos deixando-as a nossa disposição. Todo o casco foi remontado e reforçado. Nunca vi tantas ´abelhas(2)´ , parecia que a base fora atacada por um enxame de insetos metálicos. A baia interna de atracação ficou infestada deles.

Agora a Albedo tinha cento e oitenta metros de comprimento, quinze a mais do que anteriormente; quarenta metros de altura, seis a mais, o que nos deu para criar mais um deck para carga e suprimentos, e setenta metros de largura, oito a mais do que anteriormente; devido ao reforço do casco primário e secundário, a instalação de um número maior de defletores, que agora eram metafásicos, com capacidade de 688.500 GW, e o alargamento do hangar, onde mais naves auxiliares poderiam ser armazenadas.

A tecnologia dos novos escudos foi adquirida pelos cientistas da Federação dos Breens, bem como o novo reator de dobra e o dispositivo de camuflagem. Tais adaptações ainda são experimentais e por isso escolheram uma nave pequena para testá-la. A princípio usariam  na Defiant, mas esta foi comissionada na estação DS9 e usará um dispositivo de camuflagem romulano. Só Deus sabe o que eles cobrarão por isso. Bom, se serve de consolo, não somos mais a menor das naves da Frota agora. Allison ficará contente em saber disso.

Os armamentos serão pesados e teremos para todos os gostos.

Bancos phasers tipo X com 750 tW de potência, cento e vinte torpedos fotônicos e quânticos à disposição, com salva dupla de vinte por minuto. Instalamos também dois canhões isomagnéticos e drenadores de energia que são capazes de desabilitar os escudos de naves inimigas por até quinze segundos, nos dando tempo para revidar ou fugir. Esta tecnologia pegamos dos cardassianos, só não sei se eles sabem disso.

As naves auxiliares serão também bem equipados e armadas. Com aumento do espaço do hangar poderemos acomodar três shuttles tipo 9, que funcionarão como caças de ataque e naves de reconhecimento; um shuttle tipo 11, para missões de tropa de assalto, por ter uma capacidade de acomodar mais tripulantes. Dez contra quatro do tipo 9. Teremos também um shuttle tipo 16 para serviços rotineiros de exploração ou resgate. Sem contar com dois pods de serviço para consertos no espaço.

Estamos instalando circuitos bio-neurais. Eu, particularmente, fui contra. Processadores bio-neurais são altamente eficientes, porém são sujeitos à infecção. Eu não gostaria de ver a nave ´espirrando´ durante uma batalha. Por mim ficava com os velhos processadores ópticos, mas fui voto vencido. Imagino como doutora reagirá quando instalarmos o HME(3)  na enfermaria. Em breve este programa será padrão em todas as naves da Federação. Nós fomos a terceira a instalá-lo. As primeiras foram a Enterprise e a Voyager. Ele nos deu um certo trabalho, pois tivemos que instalar projetores holográficos em todos os setores chaves da nave.

O que mais me impressionou foi quando as ogivas de bilitrium chegaram. Elas são capazes de destruir um planeta  inteiro ou causar uma explosão considerável no espaço. Alguém na Frota está realmente esperando o pior e não está para brincadeira.

Temos cerca de duas mil pessoas trabalhando para que entreguemos a nave no prazo e acho que conseguiremos. Contudo ainda estou confusa. Apesar de estar orgulhosa com o meu trabalho estou apreensiva com os riscos que correremos após entrarmos na caverna do dragão. Que Deus consiga iluminar o nosso caminho e proteger a todos. Naomi desliga.”

(1)A mais alta condecoração da Frota Estelar a ser dada a um combatente. Geralmente ela é póstuma.
(2)Apelido dado a pods de serviço.
(3)Holograma médico de emergência.

Texto por: Marcos De Chiara.

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