terça-feira, 14 de janeiro de 2014

FB 1 - Mudando as Regras - Prólogo.


FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Mudando as Regras – Parte I
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma
Por Marcos De Chiara

Prólogo

A Federação Unida de Planetas, desde que tomara o conhecimento da presença do Dominion no quadrante Gamma e de suas intenções beligerantes, havia se mobilizado, ainda que secretamente, para enfrentar a ameaça. Coube a Frota Estelar preparar planos de defesa antes que qualquer membro ou setor da Federação fosse atacado.

    O Dominion, por sua vez, havia implantado um sem número de espiões pela galáxia para observar os movimentos e as franquezas de seus futuros inimigos. Esses espiões eram os changelings, verdadeiras sondas orgânicas, que se misturam nas civilizações em que se encontram, assumindo a forma orgânica senciente superior do local, podendo assim espionar sem ser notado. Estes transmorfos podem assumir também qualquer forma, desde um animal ou objeto.

    Na estação espacial nove, o chefe de segurança Odo foi o changeling enviado para espionar Bajor.Mas ninguém, nem ele mesmo sabia disso à época. Quando Odo foi encontrado pelo cientista bajoriano Dr. Mora Pol, em 2358 no cinturão Denorios próximo a Bajor, ele era apenas uma massa gelatinosa disforme sem memória de sua origem. Foi criado em um Instituto de pesquisa e assumiu a forma sólida de um bajoriano. Por ele ter a sua origem no quadrante Gamma ele foi motivo de suspeição pelo alto comando da Frota estelar, tanto que um oficial foi enviado para ocupar o seu posto de chefe de segurança da estação(1) .  
Fato que teve a oposição do comandante Benjamin Sisko; que desafiou as ordens do vice-almirante Toddman, mantendo Odo em seu cargo e fazendo do oficial da Frota, o tenente Michael Eddington, seu auxiliar. Mais tarde, quando souberam que ele, na verdade era do povo dos fundadores, os chefes do Dominion, sua lealdade aos interesses da Frota Estelar, foi posta em cheque. 

    As ações dos Jem´Hadar no quadrante Gamma colocaram não só a Frota Estelar em alerta máximo como também chamou à atenção do alto conselho Klingon; do Tal Shiar, o serviço secreto romulano; e da Ordem Obsidiana, a polícia secreta cardassiana que outrora fora sua elite militar. Estas últimas estão, segundo o serviço de inteligência da Frota, mantendo uma incessante troca de informações. 

    Com tudo isto acontecendo a Frota Estelar acionou a sua vasta rede de espionagem, dentre os inúmeros grupos, a secretíssima seção 31; cujo chefe e seus integrantes não são conhecidos nem pelo comandante em chefe da Frota. 

    Na Terra, diversas reuniões, de caráter confidencial, têm sido realizadas pelo almirantado para avaliar os futuros movimentos da Frota no setor bajoriano e proximidades, tais ações teriam que garantir a segurança dos mundos aliados e os interesses político-econômicos locais. 

    Um dos mais ardorosos defensores de uma postura mais agressiva contra o Dominion tem sido a do almirante Leyton, chefe de operações da Frota, contudo mesmo tendo convencido o comandante-em-chefe a armar melhor a Frota, através da construção de novas naves, tem recebido severa oposição do presidente da Federação, Jaresh-Inyo, que gostaria que não houvesse um conflito entre o Dominion e a Federação e que tudo pudesse ser resolvido por vias diplomáticas. O problema era que o Dominion não queria conversa e já havia demonstrado que não estavam dispostos a nenhum tipo de diplomacia.

CORREDORES DA SEDE DA FEDERAÇÃO DOS PLANETAS UNIDOS – PARIS
   
O almirante Leyton saiu enfurecido da reunião sem esperar pelos seus colegas da Frota. Um deles, o almirante Mathew Dougherty, conseguiu alcançá-lo ao apressar os seus passos. Tocou no ombro de seu apressado colega para tentar fazê-lo parar. 

- Ei, homem, aonde vai com essa pressa? 

- Oh, é você, Matt. – disse quase cuspindo fogo.

- Você não devia ter saído da reunião tão intempestivamente. – aconselha o colega de patente.

- Aquele homem me tira do sério!- Leyton ainda estava irritado.

- Você está falando do presidente. Vamos para um lugar reservado. Não devemos ter esta conversa aqui no meio do corredor. – Os dois se dirigem até o escritório reservado do alto comando da Frota Estelar. Dougherty retoma a palavra enquanto pega uma garrafa uísque. A bebida poderia acalmar os ânimos - Não quer se indispor com a Federação, quer? – diz ao servir o copo ao amigo. 
- Obrigado. Não posso ficar de mãos atadas enquanto tudo o que construímos por mais de trezentos anos se esfacela diante dos meus olhos. Não sei como ele não enxerga isso.

    - Ele é um político, não um homem de armas como nós.

    - Não há espaço para a diplomacia com o Dominion. Já perdemos duas naves e centenas de pessoas. Quantas mais terão que morrer para eles enxergarem a verdade. Precisamos agir. Agir agora! – Leyton toma toda a sua dose de vez.

    - Você deve ser cuidadoso com o que fala. Ainda mais com esse clima de suspeição que paira sobre todos com essa coisa dos...Como é mesmo o nome?

    - Os Changeling! Os metamorfos espiões do Dominion. A inteligência garante que eles estão infiltrados em vários governos do quadrante Alfa. O recente seqüestro do pessoal da DS9 mostrou que eles estão muito bem informados (2).  Isto me assusta.

- A mim também.

- Colocamos até um pessoal nosso para vigiar o transmorfo da estação nove. Ele sempre me pareceu suspeito.

- Já deixamos naves de prontidão e as bases espaciais próximas da fenda em alerta. Ainda bem que o comandante Sisko está conduzindo bem a situação por lá. Pelo que me lembro foi você que o indicou para este posto, não foi?

    - Exatamente. Ele foi meu primeiro oficial da USS Okinawa. Ele é um homem de fibra. Tem lidado com os religiosos bajorianos e os não tão confiáveis cardassianos como poucos. Demos a ele a Defiant, um projeto com a  colaboração do império romulano, para defender o perímetro e sondar o quadrante Gamma, mas temo que nem ela nem as  habilidades dele e de sua equipe sejam suficientes para enfrentar o Dominion.. Eles possuem tecnologias com as quais nem sonhamos e ainda um exército suicida como os Jem'Hadar. As coisas poderão ficar fora do controle. Principalmente se os Cardassianos se voltarem para o lado mais forte. Precisamos penetrar nas linhas inimigas. Aprender mais sobre eles e minar as suas forças antes que eles venham com tudo para cima de nós. Não quero repetir um novo Wolf 359.

- Mas as ordens do presidente são para não tomar nenhuma atitude que possa ser interpretada como agressora pelo Dominion. O que você pretende fazer?

Leyton se serviu de outra dose de uísque e deixou sem resposta seu velho amigo, apenas esboçou um sorriso enigmático. Seu colega mal sabia que seu plano já estava em andamento e tudo graças a um infeliz acidente ocorrido há algum tempo.

Alguns meses antes - Ano 2370 – Divisão de engenharia da Frota Estelar
São Francisco – Terra
Hora padrão: 6:15 a.m

O almirante William Petersen entra em seu escritório. Na porta se lê: Classe Nova – Gerência de projeto. Uma ordenança já o esperava e entrega-o um padd  com a pauta do dia. Em seguida, após o almirante sentar-se e ligar seu monitor para ler alguns relatórios. Uma cheirosa xícara de chocolate quente lhe é servida.

- Ah, obrigado, tenente. – Petersen agradece a jovem loura de cabelos curtos. Ela sorri e diz cordialmente. 

- De nada, almirante. Soube do capitão Keogh, eu sinto muito.

- É...Foi uma perda para todos nós.

O capitão Keogh comandava a USS Odissey, uma nave classe Galaxy, e ele e toda a sua tripulação pereceram em um ataque suicida de uma nave Jem’Hadar no quadrante Gamma. O almirante e o capitão eram amigos de longa data. Agora só restavam lembranças da boa amizade partilhada. Era o  que a foto de seu esquadrão da academia dizia-lhe.

A tenente, percebendo que o almirante gostaria de ficar sozinho, retira-se do escritório e retorna para a sala contígua para continuar seus afazeres.

O almirante Petersen não era um homem difícil de se lidar, mas ultimamente não estava com muito bom humor. Além da perda de seu querido amigo, o projeto o qual gerenciava, o da classe Nova, de naves científicas, havia sido paralisado em detrimento de construções de naves de combate por causa da ameaça do Dominion. É claro que o centro de operações não confirmava o motivo, mas todos sabiam que, depois de muito tempo, a Federação estava encarando uma ameaça real e tão perigosa quanto os Borgs.

Um bip vindo de seu monitor foi ouvido. Ele apertou uma tecla com medo de ouvir algo desagradável. Seu instinto não falhava nunca.

- Almirante Petersen aqui...

Era o engenheiro-chefe do projeto ligando da base Utopia.

“ Oi, Will.”

    - Senhor Oulton, a que devo o prazer tão cedo assim ?

    “Desculpe, nem prestei atenção no fuso horário. Já soube das últimas ?”

    - Últimas ? Se refere a Odissey?

    “ Não, não é isso. Então você ainda não sabe...Droga! Não queria ser aquele que teria que te dar as más novas.”

- Do que você está falando? Fale logo!

“A USS Equinox foi dada como desaparecida no quadrante Delta. Sabe o que isso significa ?”– ela era uma das naves construídas por eles.  Se a Frota concluísse que aquela classe não era segura em campo, apesar de terem demonstrado o contrário nos testes, adeus projeto Nova.

- A Equinox? Desaparecida? Não é possível! Como soube disso? Quando isso aconteceu?

“Soube de fontes seguras, pode confiar. Creio que foi há alguns dias. Estão dizendo que pode ter sido sabotagem do Dominion. Bom, ultimamente tudo é culpa deles, mas podem concluir que houve alguma falha no nosso projeto. Eu não sei o que pensar... O que faremos ?”

- Fazer ? Não há nada a fazer. Se precisavam de um motivo para cancelar de vez o projeto Nova, este acabou de acontecer. É o fim. Vão desmantelar a sua equipe e remaneja-la para outros projetos. Quanto a mim talvez antecipem a minha aposentadoria ou me darão uma licença prêmio em Risa. Oh, meu Deus! Por que isto tinha que acontecer agora?Só construímos três naves e uma ainda está no estaleiro; de onde, acredito, jamais sairá.Alguém mais sabe disso ?

    “Não, ainda não. Mas vai ser difícil esconder isto por aqui por muito tempo. Sabe como é...As más noticias voam”

    - Muito bem. Não comente isso com mais ninguém. Vou ligar para Operações e pedir uma posição. Volto a falar com você depois. Petersen desliga. – o almirante enxuga a sua testa calva tentando se recompor da desgraça que se abateu sobre ele. Perder dois amigos em tão pouco tempo. Primeiro Keogh, agora Ransom. Tomou a sua xícara de chocolate e olhou para a janela do escritório que dava para uma linda visão da baía de São Francisco esperando encontrar uma saída para os seus problemas. Quando sua secretária o chama pelo intercom.


Ano 2371 – De volta aos dias atuais...

    Petersen estava absorto em pensamentos. Relembrando que em breve sairia de férias e que na volta, talvez, o aposentassem. Olhou mais uma vez a foto de seus velhos camaradas e só então despertou de suas lembranças com a insistência da sua secretária através do intercom.
    “Almirante ? O senhor está me ouvindo?”

    Ele apertou um botão em sua mesa e respondeu: - Sim, tenente Füller ?

    “Almirante é um comunicado urgente. É do almirante Leyton.”

    - Leyton? – às vezes as preces demoravam para serem atendidas. Mas também poderia significar o arauto do juízo final. Achou que depois de três meses sem ter quase nada por fazer finalmente poderiam dar o golpe de misericórdia oficializando o cancelamento do seu projeto. – Pode passar. – disse quase num suspiro. Na tela apareceu o rosto sério do chefe de operações da Frota estelar.

    “Bom dia, Will. Gostaria que viesse ao meu escritório. Creio que tenho boas novas para você e sua divisão.”

    Boas notícias? Apesar de tudo havia alguma luz nas trevas. Não argumentou. Apenas respondeu secamente.

    - Estarei aí em cinco minutos. – desligou o monitor. Recolheu alguns pads com as últimas informações sobre as novas modificações no projeto. Não queria ser pego de surpresa. Rumou para o escritório de seu superior para decidir o futuro de sua carreira e de muitos outros engenheiros ligados ao projeto.

    - Tenente, grave todas as ligações e cancele a minha agenda do dia.

    - Bom, senhor, quanto à agenda, não se preocupe, ela  anda  com muito espaço em branco ultimamente. – responde Füller sorrindo.

    Petersen sorri de volta e caminha para a porta. Antes de sair a sua secretária deseja-lhe boa sorte.

    - Não se preocupe. Em último caso você terá ótimas recomendações minhas.

    - Obrigada, senhor.

    Saiu do seu escritório na certeza de quem caminhava para um destino incerto, mas no tear do destino já estava tecido o seu futuro, então encararia o que estava reservado para ele com nobreza e procuraria não demonstrar o quanto estava desesperado frente ao seu superior.

(1) Do episódio de DS9, “The Search I”
(2) Do episódio “The Search II”;  da terceira temporada de DS9.
(3) Personal acess display device – Aparelho de acesso pessoal com tela, também conhecido como pad, é um pequeno computador de mão (handheld) com múltiplas funções, pode funcionar como uma prancheta eletrônica, um e-book, armazenar dados escritos ou em imagens e etc.

Texto por: Marcos De Chiara.

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