quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

FB 2 - Fazendo Linguiças - 2.


Defiant by Skye Dodds - Lev Savitskiy - Moonsword

FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Fazendo Linguiças – Parte II da Trilogia.
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma.
Por Marcos De Chiara

CAPITULO II
USS Albedo –  doca interna da base 375

O capitão Alkon estava vistoriando vários departamentos da nave. A maioria do tempo, sua tripulação ficava fazendo manutenção e atualização de dados. As missões, para as quais haviam sido recrutados pela inteligência da Frota, haviam sido reduzidas. O motivo disso era que, o idealizador do “Projeto Fantasma”, da qual a USS Albedo e sua tripulação faziam parte, era o almirante Leyton, ex-chefe de operações da Frota Estelar. Alkon recebera um relatório de prioridade um do almirante Ross no qual contava os recentes acontecimentos na Terra; após o atentado do Dominion em Antuérpia. O almirante Leyton, chefe de operações da Frota Estelar; havia sido substituído por um transmorfo do Dominion; o que revelou que eles poderiam se infiltrar em qualquer parte e ser qualquer um. O verdadeiro Leyton sabia que teria que tomar medidas extremas para defender a Terra e que o presidente da Federação não iria acatar seus planos na íntegra, por ser um pacifista, então sabotou a rede de energia da Terra para dar a falsa impressão que um ataque do Dominion era iminente. Com isso conseguiu convencer o presidente e decretar lei marcial na Terra. Ele sabia que teria que endurecer as medidas de segurança e só poderia fazer isso do jeito que desejasse se afastasse o presidente da Federação do poder. Tentou dar um golpe de estado para depor o presidente da Federação Jaresh-Inyo no dia de um pronunciamento oficial, mas ele não contava com a interferência do capitão Benjamin Sisko e seu chefe de segurança da estação nove, Odo, que descobriram seus planos e o expuseram. O almirante foi preso e todas as suas ações nos últimos meses revistas. Como ainda não se sabia quem era responsável pelo “Projeto Fantasma”, se o Leyton transmorfo ou o Leyton paranóico e traidor; toda a operação com o pessoal da Albedo estava sendo cancelada. Até mesmo o almirante Petersen pode ter sido envolvido no plano do transmorfo e, por isso, foi chamado ao QG da Frota para prestar depoimento na corte marcial do almirante Leyton. Ross foi promovido à almirante e assumiu, definitivamente, o comando da base 375.

Agora tudo ficava claro para Alkon. A sua promoção para capitão tão rápida e seu comissionamento na USS Babel era um engenhoso plano engendrado pelo Dominion, como ele já desconfiava, e, provavelmente, também  seria esta atuação nas forças especiais da Frota Estelar. Mas a grande questão era: Por que o Dominion gastaria tanta energia para espionar e atacar a si próprio? Só havia uma resposta possível. Para analisar como o inimigo reage em batalha. Analisar cada ponto forte e fraco. Alkon, a Albedo e toda a tripulação tinham sido, durante todo este tempo apenas cobaias nas mãos do Dominion.  O almirante Leyton, o verdadeiro, não era seu inimigo, nunca foi. Provavelmente nunca ouvira falar nele, na missão da USS Babel ou do Projeto Fantasma. Isto tudo se esclareceria na sua corte marcial. Enquanto as provas eram reunidas contra Leyton ele tinha que esperar.

Encontrou-se com McCormick  no corredor. Apesar do jovem ruivo não possuir poderes empáticos como o seu capitão, logo percebeu o semblante sombrio de Alkon.

_Algum problema, capitão?

_Creio que sim.

_O que houve? Vão antecipar a missão? Nós ainda não estamos prontos e...

_Não haverá mais missão.

_O quê? Mas como?

Alkon, ciente que aquele assunto era confidencial demais para ser discutido no corredor, puxa seu oficial de ciências pelo braço e entra com ele em um dos laboratórios da  nave que estava vazio naquele momento.

_Lembra sobre o que conversamos quando do final da missão de sabotagem àquele planetóide que produzia Ketracel-white  ?

McCormick tinha memória total. Ele jamais esquecia de um fato.

_Perfeitamente, capitão.

_Encontraram um espião do Dominion na Terra. Um transmorfo esteve assumindo a forma do almirante Leyton. Provavelmente ele é que nos designava as missões suicidas e pode estar por trás de nossa atual condição.

_Jesus Cristo!

_Não para por aí. O verdadeiro almirante Leyton temendo que mais espiões transmorfos do Dominion poderiam estar operando na Terra, pôs o planeta sob Lei Marcial e depois tentou depor o presidente da Federação. O pessoal da DS9 o impediu a tempo e ele foi preso.

_Deus do céu, capitão...O resto do pessoal já sabe disso?

_Não. O fato de estarmos vivendo isolados de tudo e de todos impediu que soubéssemos disso antes. Acabei de ser informado pelo almirante Ross. O assunto está classificado como altamente secreto. Só comentei com você, pois precisava desabafar com alguém e você foi o primeiro a desconfiar que tal coisa poderia estar acontecendo. Mas irei marcar uma reunião com os oficiais seniores para informar-lhes do ocorrido.

_Obrigado pela confiança, capitão. Quando isto tudo aconteceu?

_Há duas semanas, acho.

_O ruim de se estar na esquina da galáxia é que as notícias demoram a chegar. – reclama McCormick – Se nos avisassem mais cedo poderíamos ter evitado algumas bolhas nos pés com todo aquele treinamento de guerra que o Kobler e o Bennett fizeram a gente passar.

_Eu tenho o meu quinhão de responsabilidade também. Mas nenhum de nós sabia nada sobre isso até algumas horas atrás.

_E o que vamos fazer agora?

_Não sei. Mandaram esperar. Acho que é o que devemos fazer. Continuar com os nossos afazeres até novas ordens chegarem.

_Por mim tudo bem, capitão. Só não ter que enfrentar aquelas sessões no holodeck de novo ficarei feliz.

_Não comente nada com ninguém até a reunião, está bem?

_Pode confiar, capitão.- McCormick faz um cumprimento e deixa a sala. Logo depois Alkon o segue e para no meio do corredor defronte a um painel informativo.

_Computador...Localizar a comandante Okaido.

[HOLODECK UM – DEQUE DOIS]

Alkon apressou o passo. Não queria perder esta etapa da recuperação de sua amada. Assim que adentrou ao holodeck encontrou a doutora T´Vel e o HME sentados em uma pequena arquibancada, num ginásio, assistindo uma animada partida de rollerball. O cenário holográfico reproduzia a final de um campeonato entre os Lunar Meteors e os Orions´s Belt. A comandante Okaido era do primeiro time e vestia um uniforme amarelo com ombreiras, joelheiras, tornozelheiras e capacete. Ela segurava um taco semelhante ao de hóquei, só que se andava sobre patins em uma pista oval tendo que se desvencilhar de seus oponentes, com certa truculência, para arremessar o disco de fibra-carbono em um orifício circular, em uma tabela, para marcar o gol. Pelo menos era isso que Alkon, ao se sentar para assistir a partida, entendeu.

_Perdi muita coisa? – perguntou.

_Olá capitão. Na verdade o jogo começou há dez minutos. Estamos no final do primeiro quarto. O time da comandante está ganhando de quatro a dois.-informa o HME- O senhor quer pipoca?

Alkon olha surpreso para o doutor e seu saquinho de pipoca.

_O senhor não gosta de pipoca? – o HME fica confuso quando o capitão não responde a sua pergunta anterior.

_Você come pipoca? – na verdade era Alkon que estava sem entender como um holograma poderia comer.

_Não, na verdade não. É um saquinho de pipoca holográfica. É mais para estar no clima do programa. Não é apropriado?

_Oh, sim. Muito apropriado.

_Se o senhor ainda quiser a pipoca podemos sintetizar uma para o senhor.

_Não obrigado. Faça bom proveito. – Alkon se surpreendia a todo o momento com o doutor Hime. Este era o nome com o qual ele o batizou e foi aprovado pelo próprio doutor.

_Como ela está, doutora? – perguntou o capitão à sua médica e conselheira em meio a gritaria dos torcedores holográficos em volta.

_Está jogando mal. Não está protegendo o seu flanco esquerdo.

_Não é disso que estou falando. Quero saber sobre a saúde dela. – Alkon tinha dificuldades em escutar a doutora. O jogo estava eletrizando a platéia.

_Ah! Eu diria que ela está respondendo acima das minhas expectativas. – gritou a doutora para ser mais audível.

_E às minhas também. Se é que a minha opinião conta alguma coisa. – interfere o doutor Hime enquanto comia as suas pipocas.

_Claro que sim, doutor. Me desculpe. Não queria fazê-lo se sentir ignorado.

_É um problema muito comum na relação interpessoal homem-holograma. Existe uma pesquisa realizada pelo doutor  Grandia Vor de Enara V que...- antes que o doutor Hime continuasse Alkon o interrompeu.

_Doutor...Creio que esta pesquisa deva ser bem interessante. Talvez o senhor queira enviá-la para o meu gabinete mais tarde, por agora o senhor se incomodaria de trocar de lugar? – Alkon queria evitar a intromissão do HME e também de ter que ficar forçando a voz para manter a conversa com a doutora T´Vel.

_De forma alguma.

Alkon se sentou entre o doutor e a doutora.

_Você que o quis ativado. – relembrou a doutora ao perceber que Alkon, por vezes, achava os comentários do doutor enfadonhos.

_Talvez seja uma parte da personalidade do programador se manifestando. Vou pedir a Naomi que dê uma olhada nisso.

_Eu ouvi isso. – disse o doutor Hime.

Alkon pede que a doutora se afaste um pouco para poderem conversar sem serem interrompidos.

_E quanto aquele problema? – pergunta Alkon se referindo novamente à Sarah.

_Ainda sem muito progresso. Talvez você possa ajudar se passar mais tempo com ela.

Alkon não sabia se seria capaz de atender a solicitação da médica. Ele ainda se lembrava de quando Sarah Okaido saiu de coma há dois meses. Não foi uma lembrança agradável.


Dois meses atrás, aposentos do capitão....


[Capitão? Doutora T´Vel. Favor comparecer à enfermaria. Tenho boas notícias!]

Alkon já estava deitado, mas havia ordenado à doutora que o avisasse à qualquer horário quando Sarah retornasse á consciência. Saiu pelos corredores ainda de pijamas. Ao chegar à enfermaria mal pode conter sua alegria. Esperava por este momento há oito meses.

_Como ela está? – perguntou, quase sem fôlego, assim que viu a doutora T´Vel.

_Bem. Ela está acordando...

_Deixe-me vê-la.

_Ainda não. – T´Vel coloca a mão no peito do capitão impedindo o seu acesso à sala de recuperação onde se encontrava a comandante Okaido.

_O que está havendo?- Alkon estranhou a atitude da doutora.

_Você não pode sentir? – desafiou T´Vel  o a capitão a exercer suas habilidades psíquicas.

Alkon procurou alcançar a mente de Sarah, mas não conseguiu.

_Como...? Você disse que ela estava bem...- Alkon estava confuso e desesperançado. Apoiou-se em uma bio-bed. Por um momento sentiu suas pernas se enfraquecerem. O que havia acontecido com Sarah?

_Acho melhor você se sentar. Preciso prepará-lo antes de você falar com ela novamente.

_Estou bem como estou. Fale logo, doutora. Detesto suspense. A mente dela se foi?

_Conseguimos debelar sua infecção, replicamos os órgãos afetados e os substituímos a contento. Contudo a bactéria que a infectou portava um vírus desconhecido que afetou a região hipotalâmica e destruiu alguns engrams de memória. O doutor encontrou o vírus e desenvolveu um soro, mas acredito que demoramos demais. O vírus agiu mesmo quando  o seu organismo estava em estase. Ela precisará passar por um programa de restauração de memória.

_Em outras palavras...Ela não se lembra de mim ou do que sentimos um pelo outro.

_É provável. Não sabemos ainda a extensão dos danos. Oito meses em coma é muito tempo. Só saberemos quando você estiver com ela, mas queria avisá-lo antes. Ela pode nem sequer reconhecê-lo ou a mim ou até a si própria.

_O nosso elo mental...Ele foi afetado. Eu não consegui alcançá-la...- Alkon estava abalado com as revelações da doutora T´Vel. Como ele reagiria na frente de Sarah?

_Acredito que a sua presença a ajudará na recuperação, mas não crie muitas expectativas.

_Posso vê-la agora?

T´Vel sai da frente e deixou o capitão se aproximar do leito de Sarah.

Alkon afastou as finas cortinas que envolvia a bio-bed. Ele viu o doutor Hime, o médico holográfico, examinando-a com um scanner médico. Logo a seguir ele a ajudou a se sentar e verificou suas pupilas com uma pequena lanterna. Ela estava tão pálida. Seus cabelos estavam desalinhados e ela parecia estar com muito sono.

_Sarah?- Alkon a chamou.

A comandante, porém, não respondeu. Sarah havia se esquecido de quem era. Ele tocou em seu ombro. Ela olhou para ele e sorriu. Um sorriso que o assustou. Aquela não era Sarah Okaido. Não a sua Sarah. Seus olhos começaram a lacrimejar e uma lágrima escorreu pela sua face, apesar de lutar contra aquela emoção.

Sarah olhou-o com curiosidade. Ela não entendia o por que aquele homem chorava.

_Acho que vou deixá-los sozinhos um pouco.- disse o doutor Hime depois que a doutora T´Vel lhe fez um sinal para se afastar.

_Você está bem? – perguntou Alkon com certa dificuldade para falar enquanto tentava arrumar o penteado de Sarah carinhosamente com uma de suas mãos.

_Por que você está chorando? – perguntou Sarah com uma voz de menina.

_Felicidade, eu acho. Estou contente em vê-la bem.

_Eu estou um pouco confusa...Com sono...Não consigo pensar direito...Estou tão cansada...Posso dormir um pouco?

_Claro, claro! Deite-se. Eu vou cobri-la. Descanse. Eu voltarei mais tarde. – Alkon beija-a na testa. Sarah fecha os olhos e volta a dormir.

O capitão sai da sala de recuperação e procura uma cadeira para se sentar. T´Vel se aproxima para confortá-lo.

_Eu olhei para ela e não a vi. Compreende?

_Sarah está com uma idade mental de uma criança de cinco anos, de acordo com a nossa análise. – informou T´Vel ao receber o tricorder médico da mão do doutor Hime e ter lido rapidamente os dados obtidos nos exames preliminares.

_Ela vai se recuperar? Voltará a ser como antes?

_Impossível dizer isso agora, capitão. Precisaremos religar todos os acessos à suas memórias antigas. Reeducá-la...Isso levará algum tempo. – disse o doutor Hime tocando no ombro do capitão para confortá-lo e depois se afastando para cuidar de Sarah.

_Faça todo o possível por ela, doutora.-diz Alkon quase suplicando.

_É o que temos feito. Tivemos, se é que uma vulcana poderia dizer isso, foi muita sorte em ela estar viva agora.

_Agradeça ao doutor por mim.- Alkon se retirou da enfermaria cambaleante. Suas ondas emocionais estavam perturbando a todos à sua volta. Pelo resto daquele dia confinou-se em seu aposento chorando por Sarah e sentindo pena de si.


USS Albedo – Presente


“BING!” – fez o barulho do placar após Sarah ter marcado mais um gol. A comandante comemorava alegremente com os seus parceiros holográficos. O barulho despertou Alkon de suas lembranças do passado. Ele a aplaudiu e gritou seu nome. Ela o viu e acenou de volta agradecendo o incentivo. Talvez eles tivessem uma nova chance. Ele não mais se afastaria dela, por mais que isto doesse. Dessa vez ele não negligenciaria o amor que sentia por ela. Pelo menos era o que ele gostaria que acontecesse.

Texto por Marcos De Chiara.

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