domingo, 16 de fevereiro de 2014

FB 1 - Mudando as Regras - Epílogo.


FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Mudando as Regras – Parte I
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma
Por Marcos De Chiara

Epílogo

Base Estelar 375 – seis horas depois...
Salão de reunião 
SBT : 8:00 am

A equipe de comando da Albedo estava toda presente, a exceção, é claro, da comandante Okaido, que ainda se encontrava em coma na enfermaria da nave. O almirante Petersen, junto ao seu staff, estava com uma fisionomia de quem estava com cólicas intestinais. Ele olhava para os oficiais perfilados a sua frente e não sabia como começar a sua explanação.

Alkon e seus comandados estavam cansados, feridos e com sono, pois estavam ainda enfrentando um fuso horário diferente; pois , quando se viajava em dobra o tempo ficava relativo. O horário da nave deveria sempre se referir ao horário da Terra, mas com a distância, havia alguma discrepância temporal. Todos estavam doidos para aquela reunião acabasse o mais rápido possível.

_Lemos os relatórios da missão e devo dizer que superaram a nossa expectativa. Na verdade, agiram além do esperado. Poderia dizer que a missão foi um sucesso e que as baixas que tiveram foram dentro do aceitável. Porém creio que o que começaram no quadrante Gamma poderá ter sérias repercussões.

Alkon interrompe seu superior. Não agüentava ouvir do almirante aquela acusação velada de que, mais uma vez, ele pôs tudo a perder.

_Sucesso? Baixas aceitáveis? Sérias Repercussões? – Alkon se alterou. Havia deixado de tomar sua dose diária do supressor psicocinético.

_Capitão! – chamou à atenção o vice-almirante Ross.

_Desculpe-me, almirante. Para mim não existem baixas aceitáveis. Existem pessoas...Almas boas que estavam sob meu comando e que se foram por acreditar que estavam fazendo a coisa certa!

_Capitão... Eu ainda não acabei de falar! Quando eu lhe der a palavra o senhor se manifestará. Até lá...- falou Petersen quando foi interrompido mais uma vez.

Mas Alkon não obedece e, arriscando-se a ser posto em uma solitária ou enfrentar uma corte marcial, continua a expor seu ponto de vista.

_Ficamos felizes que vocês tenham ficado satisfeitos com o nosso desempenho, mas o preço para tal foi alto. Para as futuras missões vocês terão que jogar com todas as cartas na mesa. Não posso agir mais no escuro sem saber a quem estou respondendo realmente. Ou vocês confiam em nós ou arrumem outros para fazerem seu serviço sujo!

_Capitão, o senhor está se excedendo! – adverte o vice-almirante Ross.

_O senhor fala de excesso e deve saber bem o que é isto. Seqüestrar tripulantes de minha nave e privar-lhes da liberdade, não é também um excesso? Usar armas proscritas pelo conselho da Federação, também não é um excesso? Quem cometeu mais excessos aqui, senhor?

_Já basta! Não tolerarei mais nenhuma insubordinação do senhor. E espero que este realmente não seja o exemplo que esteja dando para a sua tripulação, pois será muito prejudicial para as suas carreiras. – adverte Petersen.

_Carreiras? Nós somos fantasmas, lembram-se? Nós não temos mais direito as nossas vidas. Vocês as tiraram de nós. – Alkon não baixava a crista.

_Senhores, calma. Não é necessário esta exaltação de ânimos. – disse Bennett querendo por panos quentes na situação.

Os oficiais da Albedo, ainda perfilados, acompanhavam o bate-boca em silêncio, mas suas expressões faciais demonstravam que estavam endossando as opiniões de seu capitão.

Petersen não poderia demonstrar fraqueza. Se quisesse ainda ser respeitado e manter a hierarquia tinha que mostrar quem ainda estava no comando.

_Seus oficiais estão dispensados, capitão. Mais tarde iremos falar com cada um. O senhor fica. Temos assuntos...inacabados para resolver.

Antes de todos saírem, Alkon recebeu uma mensagem mental: “Acabe com eles!”. A única pessoa capaz disso era T´Vel. Olhou para ela de soslaio quando esta se retirava e sorriu discretamente dando a entender que recebera o recado.

O almirante Petersen percebera o sorriso estampado na face de Alkon e resolveu não deixar passar o gesto.

_Algo engraçado, capitão?

Alkon retomou o ar sério.

_Eu diria que sim. Toda esta operação. É uma grande piada.

_Do que o senhor está falando? Não me venha dizer que é a velha paranóia de perseguição novamente? 

_O senhor também tem formação em psicologia, almirante? Pois eu sim e sei diferenciar muito bem o que é e o que não é paranóia. E não foi uma simples paranóia que matou oito pessoas lá fora ou que atacou a minha nave quando da última vez que estive no quadrante Gamma. Eu estou querendo dizer que esta operação não me parece com nada do que fui ensinado a jurar quando me graduei. Acredito que muito do que está em jogo aqui, o alto comando não saiba a metade. Sei que me querem como uma arma viva. Sei que sou muito importante para vocês. 

_O que está insinuando, capitão? – pergunta o comandante Bennett.

_Que daqui pra frente agiremos de acordo com o livro de regras. Do meu jeito. Da última fui ingênuo em acreditar que poderia resolver tudo internamente. Imagine se algum de nós, os fantasmas, aparecesse e levasse até a Federação ou a um mundo aliado, informações do que está ocorrendo aqui. Seria algo desconfortável para Frota e para o alto conselho explicar. Se procurasse desmentir, de certo aguçaria a curiosidade dos romulanos, dos klingons e sabe-se lá de mais quem. 

_O senhor não ousaria!- diz o comandante Bennett temeroso.

- O senhor é muito arrogante, se pensa que vai nos intimidar...- o vice-almirante estava a ponto de agredir Alkon quando este o joga contra um pequeno sofá, com o seu poder mental. O comandante Bennett ameaçou tomar uma atitude, mas o olhar que Alkon desferiu contra ele, o fez dar dois passos para trás.  O almirante Petersen estava assustado. E se Alkon se voltasse contra a Federação? Não podia arriscar que tal fato ocorresse.

_Quais são as suas...sugestões? – perguntou Petersen calmamente. Tão calmo poderia ser naquelas condições.

_Libere o restante da minha tripulação e deixe-os voltar para a nave. Quero ter acesso a todas as informações sobre as futuras missões, sem exceção. Preciso realmente saber contra  quem estou lutando. Não colocarei mais as vidas de minha tripulação em riscos desnecessários. Ah...já ia me esquecendo. Aprovação da Frota de minhas comendas e promoções.

Petersen olha para Ross e Bennett como se procurasse apoio para aceitar as exigências do capitão Alkon. O vice-almirante, ainda ultrajado, havia ficado de pé e estava ajeitando a sua túnica. Não esboçou simpatia pelas palavras do capitão. O comandante Bennett deu de ombros. O que o almirante decidisse para ele estaria bom. Parecia que ele tinha dois votos contra um.

_Capitão...Estamos todos do mesmo lado. Somos companheiros de armas e não devemos alimentar hostilidades entre nós. Suas reivindicações me parecem justas. Contudo não poderei modificar ainda a condições de vocês. Toda a operação é secreta e muitos não poderão saber quem fez o trabalho. Quanto às comendas e promoções elas poderão ser endossadas pela Frota após o fim da missão. Arranjaremos boas justificativas para isso. Entenda que o seu pessoal deverá ficar confinado à nave e só poderão vir para a base quando forem solicitados e sob escolta. O luriano já está incorporado à base, então não poderá retornar à sua nave. Pelo menos até esta missão acabar. Estamos de acordo? Agora sente-se. Precisamos discutir alguns aspectos de seu relatório.

Alkon obedeceu. Não acreditava que poderia ser tão persuasivo. Já que o almirante cedeu em alguns pontos ele poderia fazer o mesmo.

_Muito bem. Segundo o que li aqui – diz se referindo a um pad em sua mão com um resumo da missão. – vocês viram uma nave cardassiana confraternizando com o Dominion. Isto bate com informações que temos de nossa inteligência que diz que uma facção deles, talvez a ordem Obsidiana, venha tratando um acordo que, possivelmente, termine em uma aliança ou um pacto de não-agressão. Isto é realmente muito preocupante. Logo agora que Bajor assinou um tratado de paz com Cardassia.

_Talvez agora a atividade Maqui diminua. – comenta Alkon.

_Ou aumente. Não temos como prever. Precisamos acompanhar bem de perto todos estes acontecimentos. – complementa Petersen.

_O senhor falou em aguçar a curiosidade das outras forças do quadrante e isto já ocorreu; logo após da menção da existência do Dominion e do desastre ocorrido com a Odissey. – falou Ross contendo a sua raiva – Uma delegação romulana está a caminho de DS9 para se inteirarem da ameaça do Dominion. Não sei como eles irão reagir. Os klingons, até agora não se manifestaram, mas não demorarão em fazê-lo. Temos informações de que o chanceler Gowron está discutindo o assunto com seus generais. – o vice-almirante entrega um pad com as informações a Alkon.

_Como vê, capitão, as peças estão se movendo. Não estamos sozinhos neste jogo. Precisamos agir com extrema cautela. Por isso devemos adiar este confronto o máximo possível. O senhor tinha ordens de não entrar em conflito com eles e acabou dando o que eles queriam.

_Entendo e respeito sua colocação, almirante, mas saiba que , como está no meu relatório, não tivemos escolha. Seria nós ou vocês. O Dominion também sabe jogar este jogo muito bem.

_Eu sei que o senhor e sua tripulação passaram por momentos bem difíceis e admiro o que fizeram e como reagiram. Eu posso estar enferrujado agora, mas sei bem o que é estar em um campo de batalha e ter que tomar decisões em segundos. Agora, antes de ir, creio que deve desculpas ao almirante Ross.

Alkon se levanta e faz um pedido formal em posição de sentido.

_Este capitão se envergonha do que fez, senhor. Peço perdão por minhas ações e estou pronto para qualquer punição que o senhor julgar necessária, senhor.

_Apenas não cometa este erro novamente ou esquecerei o quanto você é importante para a Frota. Dispensado.

Alkon cumprimentou a todos os oficiais presentes e se retirou. Bennett finalmente relaxou e, praticamente, deixou-se cair no sofá.

_Este capitão vai nos dar problemas. – comentou.

_Ele é o problema. Se não fosse por suas qualidades peculiares...- Ross reforça o comentário.

_Senhores...O capitão Dorian Alkon só precisa ser lapidado. Preciso da ajuda de vocês para fazê-lo. Precisamos mantê-lo em rédeas curtas, mas precisamos perceber também que é preciso afrouxá-las de vez em quando. – suplicou Petersen.

_O difícil é admitir que o garoto é muito bom no que faz. Ele destruiu uma armada Jem´Haddar! É um feito para entrar na história da Frota Estelar! – diz Bennett com admiração.

_Mas a Frota não irá saber disso. Ninguém pode saber, está claro? Talvez, um dia, isto seja revelado, mas não agora. – diz Petersen esboçando um pequeno sorriso. Ele admirava Alkon ainda mais depois de hoje, não por ter vencido, com apenas uma nave, uma armada inteira, e sim por tê-lo enfrentado e, principalmente, o vice-almirante Ross.

...

Do lado de fora da sala, a doutora T´Vel esperava o seu capitão, com uma ansiedade acima do comum, para uma vulcana.

_Parabéns, capitão, pela firmeza com a qual tratou dos nossos interesses. Não esperava que agisse com tamanha veemência.

_Obrigado doutora. Acho que uma parte de Sarah se manifestou em mim. Ainda não acredito que tenha tido a coragem de colocá-los contra a parede. – confidencia Alkon à doutora enquanto esta o acompanha pelos corredores da estação.

_Esta coragem sempre esteve dentro de você. Talvez o seu elo mental com a comandante a tenha apenas avivado.

_Por falar nela...Como andam as pesquisas?

_Seu quadro não evoluiu muito, mas o HME acredita que possa administrar um antibiótico para teste nas próximas horas. Não se aflija. Iremos tirá-la dessa.

_Peço aos deuses que sim. Parece que o HME tem sido de muita ajuda, não?

_Confesso que no início estava reticente quanto ao uso desta nova tecnologia. Hoje o encaro como um colega eficiente.

_Um colega? Presumo que estão se dando bem.

_Tanto quanto um humanóide pode interagir com um holograma. É um programa interessante, por vezes penso que ele é até senciente.

_Ele é um IA  que aprende toda vez que é acionado. É uma ótima invenção do doutor Zimmerman. Entretanto a Frota acha que precisa ser aperfeiçoado. Soube que o doutor Bashir, da DS9, irá também testar o programa para ajudar a melhorá-lo antes de ser implementado de vez nas naves da Frota.

_Espero que o projeto seja aprovado. O nível de stress entre os profissionais da área médica iria diminuir consideravelmente.

_Imagine uma nave comandada por andróides como o comandante Data e hologramas...Iria poupar muitas vidas.

_O senhor poderia sugerir isto ao comando. – instiga T´Vel ao chegarem na comporta de atracação que os levaria de volta à Albedo.

_Eu? O alto comando não é muito receptivo às minhas idéias, você sabe. Se não fosse pela minha competência e o fato de vir a me tornar uma arma viva como querem, já teriam me expulsado da Frota. Principalmente depois de hoje.

- O senhor é uma carta alta no baralho deles que não ousam descartar. O único capitão da Frota Estelar a destruir uma armada do Dominion.

_Contenha o entusiasmo, T´Vel. Não fica bem para uma vulcana – a doutora fica constrangida com o comentário – A metáfora é boa, mas ainda não sei que jogo eles estão jogando. Dependendo do jogo, posso até ser de um naipe ruim.

_Este jogo de intrigas também não me agrada. Prefiro ficar em meu laboratório médico.

_Como já disse uma vez um primeiro ministro inglês do século vinte: “É melhor não saber como as lingüiças são feitas”.

_Creio que a citação correta seria: “Política e lingüiças, é melhor não saber como são feitas”.

_Ou isso. – os dois chegam ao interior da nave. – Vamos almoçar? Acho que poderemos pedir para que Dorn nos envie aquelas sobremesas deliciosas que só ele sabe fazer. Depois de tantas batalhas meu apetite aumentou. Preciso te contar as boas novas. Creio ter conseguido impor certas regras em todo este jogo sujo.

_Não valorizo tanto o prazer em uma refeição. Alimento-me por necessidade, não por prazer. Contudo me acostumei em partilhar as refeições com os colegas, pois é um bom momento para trocar idéias.

_Isto quer dizer um sim?

_Avisarei o HME para continuar as pesquisas e acompanharei o senhor.

_Ótimo. Vou falar com Naomi sobre a agenda de reparos da nave e encontro com você no restaurante dos oficiais em dez minutos. – o capitão se despede da conselheira e amiga momentaneamente e toca em seu comunicador: - Naomi...Como estão as coisa por aí?

[Com o apoio dos engenheiros da base o trabalho ficará mais fácil e rápido. Prevejo que ela estará totalmente operacional em três semanas.]

_É uma boa notícia. Ainda mais se a tenente Rivera ajudar, não é? – diz Alkon se referindo a assistente de Naomi que estava confinada na base.

[Sim...mas o quê? O senhor quer dizer... Mas como?] - Naomi estava confusa.

_Contarei as novidades mais tarde. Que tal uma partida de poker para logo mais à noite? Posso contar com você?

[O senhor ficará feliz em ter-me à mesa. Sou uma ótima perdedora.] Naomi não perderia esta oportunidade por nada deste mundo. Seria um raro momento de descontração que teriam nos últimos meses.

_Sabe o que dizem...Azar no jogo, sorte no amor. – diz Alkon para descontrair.

[Acho que precisam rever este ditado, senhor. Com a vida que estamos levando, fica difícil ter qualquer tipo de relacionamento.]

_Talvez eu consiga com o almirante Petersen umas férias em Risa.

[Depois de como o enfrentou oje, não duvido, capitão. O senhor soube impor limites. Foi preciso muita coragem.]

_Vocês me ajudaram muito. Sem o apoio de vocês eu não teria tido a coragem necessária.

[O senhor sabe que conta com nosso apoio incondicional. Afinal de contas o senhor é o nosso capitão.]

-Obrigado, Naomi. Espero você às oito horas no salão de recreação. Avise os outros. Alkon desliga.

...

À noite o capitão parecia estar bem mais relaxado. Estava até de bom humor e todos que estavam à mesa de poker notaram. Com roupas civis, Naomi, Allison, McCormick, Zagar o rodeavam, bem como Dorn, que havia conseguido uma autorização especial para lá estar e fazia as vezes de banca. Todos estavam contentes em poder estar juntos em um momento de lazer. Ainda mais quando souberam das boas novas que o capitão contara.

Zagar estava ganhando à três rodadas seguidas e só havia aprendido as regras àquela tarde, quando, após ser convidado, acessou o banco de dados da biblioteca da nave.

_Os elasianos não possuem visão de raios-x possuem? – perguntou Allison sarcasticamente.

_Não que eu saiba. A não ser que o nosso amigo aqui seja um tipo de mutante! – brinca McCormick.

_Foi sorte, senhores. Estou numa boa noite, só isso.

_Vamos lá senhores...Mais uma rodada...- Dorn distribui as cartas – Façam suas apostas!

Os jogadores conferem as cartas e verificam quantas precisarão trocar.

_Eu quero duas. – pediu Allison.

-Uma – pediu McCormick.

-Duas para mim também. – solicitou a engenheira.

-Uma. – falou Zagar um pouco apreensivo.

-Capitão?-perguntou Dorn quando este não se manifestou.

Alkon olhou para as suas cartas e depois para seus companheiros e então, misteriosamente, sacudiu a cabeça negativamente.

_O senhor não vai trocar nenhuma carta?-perguntou Zagar impressionado.

-Não. – respondeu num sorriso enigmático.

Allison foi a primeira a desistir.

_Estou fora. Meu jogo estava muito ruim. Boa sorte para vocês. Vou pegar um chocolate quente no sintetizador. Alguém quer alguma coisa? – perguntou olhando, carinhosamente para Douglas McCormick.

_Não obrigado. - respondeu o jovem marciano de bochechas rosadas, que ficaram mais ainda quando percebeu que seus colegas notaram que entre ele e Allison estava rolando alguma coisa.

Duas rodadas depois, as apostas já chegavam a quase mil créditos, cerca de cinqüenta barras de latinum.

Os seus trezentos mais cem. – disse Alkon ao apostar na sua vez.

-Tô fora. – disse McCormick se rendendo e, ao se levantar, aceitou um gole do chocolate de -Allison, que o abraçou e ficou assistindo aquela emocionante rodada.

- Trezentos e cinqüenta mais duzentos. – apostou Naomi. Zagar estava nervoso. Bem que ele gostaria de ter a tal visão de raio-x. Se isto fosse verdade e ele estivesse em uma roda em Rigel ele seria um elaysiano morto. Na verdade é que ele possuía dois pares. Uma de damas e outra de valetes. Será que os seus adversários tinham um jogo melhor?

As apostas continuaram e a engenheira não agüentou a pressão.

-Acabaram as minhas fichas!

-Pode pedir um empréstimo à banca. – sugeriu Alkon.

-E vou pagar com o quê depois? A sorte não está soprando para o meu lado hoje.

-Serviços prestados. Posso precisar de um ajudante de cozinha. – comentou Dorn.

_Não, obrigada. Eu passo. Eu sou um desastre na cozinha. Você não iria me querer por perto. Boa sorte para vocês. Vou tomar um suco de maracujá vaaliano. Este jogo acabou comigo! – Naomi não gostava de desistir ou mesmo de perder, mas desta vez se rendeu à sua maré de azar.

_Sua vez, Zagar. – desafiou Alkon. O elasiano começou a suar. Tentou olhar bem nos olhos de seu capitão para descobrir a sua tática.

_Por acaso o senhor não está...Desculpe por perguntar mas, não estaria...

_Lendo a sua mente? Não.Vê? – aponta para um aparelhinho colado em sua têmpora que emitia uma pequena luz verde intermitente. Era um supressor neuro-cortical. – Isto é uma das exigências para um betazóide num jogo como esse. Faz parte das regras. Não poderia lê-lo nem se quisesse. Aliás não seria ético de minha parte, não é?

_É claro, senhor. Creio ter lido algo a respeito. Desculpe-me. Eu não queria...

_Deixe pra lá, alferes. Aposte! – disse o capitão num sorriso intimidador.

-Eu...- Zagar estava hesitante. Deu uma última olhada em suas cartas e acabou por debruçar sobre a mesa quase chorando de raiva. – EU DESISTO!

-Iuupiii! – comemorou Alkon. – As crianças desabrigadas de Nova Bajor irão agradecer o donativo em nome de todos.- disse o capitão ao recolher as fichas da mesa. 

_Foi uma ótima noite, senhores. Mas agora vou me recolher. Boa noite à todos! – ao se levantar, deixou suas cartas com a face voltada para mesa. Retirou o supressor e saiu da sala.

Todos se entreolharam e quase se jogaram para descobrir qual era o jogo do capitão. Naomi virou as cartas uma a uma sobre a mesa: Um valete de paus, um rei de ouros, um dez de copas e um sete de ouros. Ou seja, nada! Ele havia blefado o tempo todo!

Alkon sorri quando, do corredor, escuta os gritos de frustração de seus colegas. Antes de dormir, porém, dirigiu-se a ala médica. Fora dar boa noite para Sarah. Algo que acostumara a fazer desde que ela estava em coma.

_Oi, querida. Vim te dizer boa noite. Eu te amo e não vejo a hora de abraça-la e repetir isso em seus ouvidos. Sabe...Esta noite eu e o pessoal estávamos jogando poker. Você gostaria de ter visto a cara deles quando souberam que blefei a noite toda. Zagar é um ótimo jogador, mas faltou-lhe malícia... A doutora T´Vel me assegurou que você ficará boa logo. Eu confio muito nela. Não de..desista – disse com a voz embargada – Eu estou te esperando... – Alkon beijou-a na testa enquanto fazia carinhos nos cabelos de Sarah e por uma boa parte da noite Alkon ficou conversando com a sua amada.

Um dia haveria paz novamente na galáxia e eles poderiam desfrutar do amor que sentiam um pelo outro. Por enquanto Alkon só poderia sonhar com este futuro.

...

Final da Primeira Parte da Triologia.

...

Texto por: Marcos De Chiara.

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