terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

FB 2 - Fazendo Linguiças - 1.


Defiant by Skye Dodds - Lev Savitskiy - Moonsword

FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Fazendo Linguiças – Parte II da Trilogia.
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma.
Por Marcos De Chiara

Capítulo I

Terra – São Francisco.
Centro de Comunicações da Frota Estelar.
Departamento de Telejornalismo.

Iryal Lanin era o âncora do noticiário da Federação de Planetas Unidos chamado: “Bom dia Federação”. Um noticiário variado com informes sobre as missões da Frota Estelar, comércio interplanetário, descobertas científicas e esportes praticados por centenas de culturas. O noticiário era normalmente transmitido por todo o quadrante alfa nos canais privativos de naves estelares, bases da Frota e planetas membros ou alinhados à Federação de Planetas Unidos. Um consórcio, formado pela INN, Interestelar Network News, uma rede privada de notícias e a divisão de notícias da Federação; DNF, mas que na prática era controlado pela Frota Estelar, produziam e retransmitiam o boletim diário pelo universo. A Federação optou por ceder uma concessão a uma rede privada para que se pudesse manter a idoneidade das notícias e que não passasse a imagem que elas eram manipuladas; mas que na verdade tinham uma censura interna feita pela Frota. O próprio Yryal Lanin era um operativo da Frota. Tiburoniano de meia idade, de patente de tenente-comandante. Contudo não usava uniforme. Agia como civil para não prejudicar a imagem de imparcialidade que a Frota queria passar. Ele estava se preparando para gravar um dos três boletins diários para as naves da Frota Estelar quando é interpelado no corredor por um colega jornalista cuja voz ele conhecia muito bem.

-IURI! Preciso falar com você!

_É Iryal! – corrige – Depois de dez anos você ainda não aprendeu a falar meu nome, homem? O que você quer Barinni?

_Que libere a minha história sobre o almirante Leyton. Eu não a vi no noticiário desta semana. E que negócio é esse de tirar o sangue de todo mundo que entra aqui no prédio? – diz Timothy Barinni massageando o braço que fora picado por uma hipospray. Ele era um terráqueo de trinta e oito anos, moreno, nariz aquilino, média estatura, e com um comportamento bastante agitado, como todo descendente de italiano. Tinha um visual desleixado. Não se preocupava muito com a moda, mas sabia conquistar as pessoas com a sua simpatia e conversa mole. Armas que nem sempre surtiam o efeito desejado.

_Desculpe, amigo. Apesar do fim da lei marcial nós ainda seguimos as regras de segurança que foram implementadas. Quanto à sua matéria... Ordens superiores. O alto comando não quer que essa informação se espalhe. Não posso ajudá-lo nessa. Não sei como ou onde você obteve as informações sobre o que aconteceu com Leyton , mas te digo que muita gente não gostou nada quando viu seu material. A sua outra matéria sobre o atentado à reunião de cúpula romulano-federação já causou estrago o suficiente.  Eu quase fui rebaixado por tê-la liberado, sabia?

_O que eu posso fazer? Eu estava lá. Seria um desperdício não documentar o fato. Quanto ao Leyton...Você sabe...Eu tenho minhas fontes. E antes que você pergunte...Não. Não posso revelá-las. Tradição antiga de família. – Barinni estava sendo sarcástico.

- Tudo bem, eu compreendo. Mas esta matéria não vai ao ar. Peça outra coisa e vou ver o que posso fazer. Que tal fazer a cobertura do dia de Kirk? – Lanin dá um tapinha nas costas de Barinni.

Timothy Barinni  faz uma cara de desdém, respira fundo e torna a falar:

_Censura, hein? Então as coisas devem estar indo mal para nós. Nós acabamos de passar por uma lei marcial no planeta! As pessoas ficaram apavoradas. Direitos civis foram violados e a Frota não quer mais que falemos no assunto?

- Isso mesmo. Com o endosso do alto conselho da Federação.

Barinni vê que seus argumentos eram ineficazes. - Tudo bem...Esqueçamos Leyton e sua lei marcial. Soube que ele enfrentará uma corte marcial e depois disso as coisas possam ficar mais claras. Novos detalhes podem vir à tona.  Talvez possamos fazer um especial com ele para o final do ano com uma entrevista exclusiva. Que tal?

- Você não desiste, não é mesmo?

- Você acha que cheguei aonde cheguei como? Vamos nos concentrar em outra questão então... Parece que o homem do momento é o capitão Benjamin Sisko. Você precisa me por em contato com ele. A Terra e os nossos aliados da Federação precisam ficar sabendo exatamente sobre o que há de verdade destas escaramuças com o tal Dominion do quadrante gamma do qual temos ouvido tanto. Como é que são esses transmorfos, os tais fundadores...

_Não vai ser possível. Ele está muito ocupado agora. Ele foi nomeado chefe de segurança da Frota para o setor bajoriano. Status de almirante sabe? De certo que as coisas por lá estão fervendo, mas a Frota não vai querer nenhuma propaganda negativa neste momento.

_Propaganda negativa? Um transmorfo assumiu o lugar do chefe de operações da Frota Estelar sem que ninguém soubesse. Poderia ter destruído a Terra e causado muito estrago. Você não acha que o povo precisa saber disso?

_Não! Acho que você agora entendeu o por quê da censura! – Lanin sorri e continua o seu caminho até o estúdio de gravação.

_Espere! Me arrume um transporte até o sistema bajoriano. Prometo não divulgar nada até que você veja o material.

_Você parece surdo, homem. O sistema bajoriano é o último lugar para se estar neste momento. Estamos no meio de uma crise! Talvez a maior que a Federação já enfrentou desde a sua fundação. Os klingons quebraram o tratado. Aquele setor é considerado uma zona de guerra.

_Por isso mesmo é que eu preciso ir. É nas crises que surgem as melhores histórias. Eu preciso ver isso tudo de perto. Não ficar sabendo através de noticiário controlado pela “censura” da Federação ou da Frota Estelar.

_Isto está fora de cogitação. Você nunca foi correspondente de guerra. Não tem o treinamento adequado...Além do mais, já se esqueceu o que aconteceu com Teraxis ? O consórcio e a Frota não iriam deixar que o episódio se repetisse.

Barinni estava ficando sem argumentos. Então recorreu ao único que poderia lançar mão naquele momento: chantagem emocional.

_Então eu me demito! Não posso continuar trabalhando em um lugar onde não existe liberdade de imprensa.

_Está maluco, homem? Vai destruir a sua carreira? Você é o nosso melhor repórter investigativo.

Barinni trabalhava no ramo da imprensa interestelar há quinze anos. É ganhador de dois prêmios “Olho de Shiva” ; um sobre uma reportagem sobre a tentativa de invasão de Vulcano pelos romulanos em 2368 e outro sobre um documentário a respeito dos sobreviventes da guerra com os Borgs em Wolf 359 no ano de 2367. O seu faro jornalístico agora o empurrava em direção ao tal Dominion. O grande mal que ameaçava a hegemonia da Federação. Ele precisava desvendar todo o mistério envolvendo esta nova coalizão de forças, mesmo que para isso tivesse que pôr sua vida em risco.

_O que me adianta ser o melhor se não posso fazer o meu trabalho? Fora daqui eu vou trabalhar como free-lancer e vender a minha história pelo melhor preço. Sei que não vou agradar muita gente fazendo isso, principalmente o alto comando da Frota, mas fazer o quê?

_Eu poderia mandar prendê-lo sabia?

_Sei. Também sei que você não irá fazê-lo, pois sabe que é melhor ter a mim como aliado. Então como ficamos?

_Por que você  têm que ser tão teimoso?

_Por que eu sou civil e você militar? Eu não sigo regras. Pelo menos não todo tempo.

Lanin parecia ter sido convencido pela lábia do amigo repórter.

_Ouça, Tim. Eu não posso discutir sobre isso com você agora. Tenho que fazer uma gravação em cinco minutos. Que tal nos encontrarmos no bar The Music of The Stars, na avenida April às oito? Ok? Eu tenho que realmente ir agora. Te vejo lá. – Lanin passou-lhe um cartão do lugar.

Iryal foi praticamente carregado pela sua produção até o estúdio de gravação do “Bom dia Federação” e Timothy ficou pensando se realmente conseguiria o seu intento. Colocou o endereço no bolso no mesmo momento que seu comunicador tocou. Acionou a pequena tela de vídeo polimerizada. Era a sua esposa.

“Tim? Posso falar com você? Liguei o dia inteiro. Por que não retornou as minhas ligações?”

_Estou no trabalho, Liz. Vê? – Timothy exibe o cenário em torno de si para a sua esposa confirmar que falava a verdade.

“Você está sempre no trabalho. Este é o problema. As crianças sentem falta de você. Você por acaso sabe que dia é hoje?”

_Hummm....Deixe-me ver...Terça-feira?

“Droga, Tim! Hoje é aniversário do Michael, seu filho, lembra-se? Não o desaponte. Venha para casa. Estamos te esperando. Oh Deus....”- a ligação foi terminada em meio a soluços e lágrimas.

Timothy quase lançou seu comunicador na parede, mas percebeu que o objeto não tinha culpa por sua omissão nos deveres de pai e marido. Correu até a unidade de vendas a distância mais próxima. Digitou alguns códigos e escolheu uma nave em miniatura por controle remoto como presente para seu filho. Era uma da classe Sovenreign. Digitou o seu endereço e solicitou o envio por teletransporte para dali a meia hora. Seria o tempo de pegar o seu veículo antigravitacional e chegar em casa.

Quando estava no estacionamento lembrou-se de seu compromisso com Iryal. Olhou para o cartão que ele lhe dera. O que faria? Não tinha gastado toda a sua lábia à toa. O que faria? Havia boas chances dele conseguir o que queria e novamente poderia ser indicado para mais um grande prêmio jornalístico.

Por que as decisões que tomamos na vida tinham que ser tão complicadas? – pensou. Ficou olhando para um monitor, das dezenas de monitores espalhados pela redação do noticiário. Escutou a chamada singular do noticiário e seu respectivo logotipo. A imagem de Iryal Lanin apareceu e ouviu-se a sua voz anunciando o início do programa jornalístico, como sempre fazia, há vários anos.

“Bom diaaa Federação! Eu sou Iryaal Lanin e este é o seu programa diário com as últimas notícias da Federação e mundos aliados. E estas são as notícias de hoje...”

Texto por Marcos De Chiara.


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