domingo, 19 de janeiro de 2014

FB 1 - Mudando as Regras - 1.


FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Mudando as Regras – Parte I
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma
Por Marcos De Chiara

Capítulo I

Alguns meses depois...
Sistema Hatarian
USS Albedo – NCC 72382

“Diário de bordo, data estelar 48384.6. Estamos finalizando o levantamento topográfico e astrométrico de um planetóide classe L para evidenciar potencial para mineração. Infelizmente as conclusões não são muito satisfatórias. Os minérios encontrados não possuem grandes atrativos comerciais ou estratégicos. Anexando ao diário os relatórios dos departamentos científicos. Fim do registro.”

O capitão Dorian Alkon estava satisfeito por mais uma missão concluída com êxito, contudo após oito meses no espaço, tais missões de mapeamento eram enfadonhas demais.

Entretanto ainda tinham mais dois anos e quatro meses de missão pela frente. Três anos de missão no espaço, com três licenças de quinze dias a cada ano para toda a tripulação, era o que normalmente a Frota recomendava, uma vez que as antigas missões de cinco anos estavam causando estresse ou uma rotatividade demais na tripulação, o que estava comprometendo a eficiência das equipes. Mesmo com os programas de exercícios, culturais e os holodecks a disposição. Ter que se adaptar a novos colegas ou novas regras demorava um pouco e, no espaço profundo, conhecer bem o pessoal em que você depositará a sua vida, é essencial. Bom...Faltava apenas quatro meses para a licença. Se a tripulação estava agüentando até agora, ele teria que agüentar também; até mesmo porque, sendo o capitão, deveria dar o exemplo. Mas seus amigos mais chegados sabiam que ele não tem estado confortável na cadeira de comando. O verdadeiro motivo eram os tipos de missões que recebiam. A primeira missão da Albedo tinha sido verificar uma anomalia espacial no sistema Devron mas, quando chegaram, a anomalia não mais existia. A única coisa excitante foi de estarem perto demais da zona neutra romulana. Passaram alguns dias navegando a esmo  e monitorando transmissões romulanas, mas com a atual política de alinhamento do império romulano, não havia nada interessante a reportar. Partiram para Ardana Prime, atendendo a um pedido de socorro, e ajudaram a população local durante uma tempestade eletromagnética. Foi um bom teste para a nova tripulação. Depois receberam a missão de monitorar um buraco negro perto do sistema Talariano; analisar tempestades nas Badlands, para verificar a possibilidade da criação de uma rota segura para navegação, algo que se concluiu não ser possível devido a imprevisibilidade do surgimento dos turbilhões eletromagnéticos; e por fim foram instalar retransmissores sub-espaciais na zona desmilitarizada entre Cardassia e o sistema Bajoriano, destruídos por maquis. Todas essas missões foram cumpridas a contento e a Frota Estelar parecia estar satisfeita com o desempenho da tripulação.

O desempenho da nave também estava sendo excelente, apesar de pequena em relação a USS Babel, era dura na queda. Grande parte deste mérito devia-se ao trabalho da engenheira-chefe tenente Naomi Silva e sua equipe.

O moral da tripulação tem sido mantido em níveis elevados e o mérito era da Dra. T´Vel que, acumulando as funções de conselheira da nave, sugeriu o comissionamento de um barman. Normalmente ele ouvia melhor os problemas da tripulação, sem as inibições de uma consulta programada. Em uma nave da classe Nova  não havia esta função. No manifesto da tripulação constavam apenas um chef e três ajudantes de cozinha. Todavia, ao salvarem um luriano de uma confusão em um cargueiro, uma missão não oficial, cujos alguns detalhes foram omitidos do diário de bordo. Seu nome era Dorn, era muito falador, o que era atípico para sua raça, mas também sabia  manter-se calado e, quando necessário, ser um bom ouvinte. Ele tem sido uma boa aquisição e uma mudança na rotina da nave. Dorn e a Dra. T´Vel têm se demonstrado uma boa dupla. Juntos eles até discutem abordagens terapêuticas fazendo com que todos, na medida do possível, se sintam bem.

Duas outras novas importantes aquisições para a nave nesses últimos meses foram o navegador sauriano Sleek Kiisiri Kelanii, Ele é o timoneiro no primeiro turno e depois é substituído pela Tenente Allison, quando da troca de turno. Sua pele púrpura e sua aparência reptóide é algo difícil de não se notar quando ele está na ponte. A nave tem funcionado bem em um regime de três turnos. O primeiro começa as oito e vai até às dezesseis horas, o segundo de dezesseis as vinte e quatro horas e o último de vinte e quatro até as oito do dia seguinte. Na Babel os turnos eram quatro de apenas seis horas, mas ela era uma nave maior e possuía mais gente para revezar. Em uma nave pequena era necessário fazer sacrifícios. Se o cansaço tomasse conta, era só requisitar os serviços do ordenança de plantão para trazer um lanche ou simplesmente um café.

A outra aquisição é o novo oficial de operações e comunicações, o tenente-júnior Dylan Zagar. Ele era peculiar. Não só por ser elaysiano e ter que usar servo-motores para se locomover, mas por ser muito jovem e ser um prodígio em conhecimento de diferentes culturas e línguas. Recentemente McCormick, Naomi e a Dra. T´Vel se reuniram para melhorar o deslocamento do jovem pela nave e o dotaram de um teletransportador pessoal intra-nave, que o faz desaparecer e aparecer em qualquer lugar da nave que ele queira ou que seja requisitado. Isto, ás vezes, pega muita gente de surpresa. Contudo o advertiram que o uso contínuo de tal recurso poderia causar instabilidade molecular. E então, apesar de tudo, ele ainda mantém seus servo-motores. Ele era bem simpático e prestativo, não se deixando abater pelas limitações que a gravidade mais alta fazia ao seu corpo. Mas em sua cabine ele podia relaxar flutuando, como em seu planeta natal.

A ponte da USS Albedo era bem menor que a nave anterior, tendo apenas um lugar no console navegacional onde um tripulante assumia a função de piloto e navegador, o que Sleek, Allison, e mais um outro alferes o faziam em turnos alternados de oito horas. No console da estação de armas e do tático o klingon Klag continuava a atuar com mãos de ferro. Klag continuava na Frota através do programa de intercâmbio militar-científico com o governo klingon. Ele também era o chefe de segurança da nave e tinha como seu pupilo o alferes Gilbert, que sofria com suas severas exigências de eficiência. O jovem alferes tinha a ingrata missão de deixar a estação sempre pronta pela manhã para quando, à tarde, o klingon assumisse não se queixasse de nada.

O tenente McCormick, o oficial de ciências marciano, aparentava felicidade com tantas missões científicas e estava sempre ocupado com a análise de dados, indo de um departamento a outro para concluir os relatórios de pesquisa com a maior precisão possível.

O segundo turno, com a presença do capitão na ponte, era sempre tenso. Os oficiais mais jovens queriam sempre mostrar serviço. Além deles havia sempre um oficial de controle de danos atento às condições gerais de funcionamento da nave e sempre ponto a reportar se algum defeito aparecesse. Este oficial, no segundo turno, era a tenente-júnior, Kimberly Jones. Escolhida pela imediato para a função. Elas se conheceram na base 41 quando a número um escolhia a nova tripulação. Ela fazia parte da equipe de controle de vôo da estação e ficou bem feliz em poder servir em uma nave novamente.

Quem parecia não estar se sentindo bem em estar na menor classe de naves da Frota, excetuando a Defiant que fora comissionada na estação DS9, era a imediato de Alkon: a comandante Sarah Okaido.

Dorian Alkon sabia que ela era uma oficial para a ação. Seu sonho era estar na Enterprise, a nau capitânia da Frota, que era um imã para atrair problemas. Porém sua maior qualidade sempre fora a lealdade e, quando foram designados para a Albedo, ela não pulou fora do barco. O capitão também sabia, não só através de seus poderes empáticos, mas pelos olhares que, vez por outra trocavam, que o real motivo que a mantinha ao seu lado era outro e isto o constrangia. Não que ele não a achasse atraente, mas tinha medo  que um relacionamento entre os oficiais mais graduados pudesse fazer à disciplina da tripulação. Talvez isto fosse apenas uma desculpa para sua insegurança no relacionamento com mulheres e seu medo de rejeição fosse maior do que a sua coragem.

Quando Sarah apareceu na ponte e sentou-se ao seu lado parecia que fora atraída por seus pensamentos. Alkon resolveu parar de pensar e começou uma conversa:

 _Como estão as coisas? 

 _Bem. Acabo de vir do deck 7 e Naomi me disse que temos força de dobra quando o senhor quiser. Ela já terminou a análise do sistema no nível três.

 _Ah... Eu quis dizer com você. Tenho notado que você tem estado tensa nestas últimas semanas.

 _Não, estou bem.

 _Sarah..._o capitão olha em volta e percebe que estavam ouvindo a sua conversa e resolve ser mais discreto – Venha até o meu escritório.

Os dois se levantam e são acompanhados pelos olhares da tripulação que torciam para que os dois se acertassem.

 _Pronto. Aqui podemos falar a vontade.

_O senhor quer falar sobre o quê ?

 _Por Tholta(1) , Sarah! Eu não quero falar sobre nada. É você que precisa desabafar. Eu apenas pensei que quisesse falar a respeito...

 _O senhor sentiu isso ?

 _Sentir? Você está transpirando inquietação. E pare de me chamar de senhor!

 _Desculpe, capitão. Espero que esta inquietação não tenha prejudicado o meu desempenho.

 _Por que você está agindo assim?

 _Agindo como ?

 _Você está tão formal...

 _Creio estar me portando da maneira correta, senhor.

 _EU DESISTO! – Alkon se senta diante da resistência de sua primeira oficial. Sarah, contudo, fica em pé em posição de sentido. Percebendo que seria difícil romper aquele bloqueio Alkon ordena – Você pode ficar a vontade, imediato.

 _Obrigado, senhor. – ela deixa a posição de sentido, mas evita olhá-lo nos olhos.

 _Número um...Sarah...Eu...Por favor olhe para mim.

 _Desculpe, senhor. Eu não ...

 _Não consegue? Do que tem medo? De que eu leia seus pensamentos? Você sabe que não posso. Existem protocolos para isso. Mas acredite que, mesmo sem os meus dons telepáticos, percebo que algo mudou entre nós.

 _O que haveria de mudar ? – Sarah era pura tensão. Jamais ficara assim na frente de ninguém. Apenas dele.

 Alkon diz um velho provérbio betazóide: _“Aquele que fala uma coisa e pensa em outra, tem uma guerra dentro de si.”

 _O quê ? Eu não compreendo...

O capitão levantou-se, segurou Sarah pelos braços e a encarou. Pôde sentir sua respiração ofegante, seu colo pulsante, e seu corpo tremer. Chegou até mesmo a escutar seu batimento cardíaco acelerar.

Quando nada mais havia para ser dito, ambos fecharam os olhos e suas bocas se aproximaram, mas o bip do intercom soou e a voz do jovem oficial Zagar, quebrando o momento mágico.

Alkon a soltou e atendeu o chamado: _Sim...?

“Mensagem urgente da Frota Estelar. Prioridade Um, senhor!”

_Passe para cá. – Alkon vira o monitor de sua mesa para que ele e Sarah pudessem ver e ouvir a mensagem.

Enquanto a mensagem era retransmitida Sarah procurou sentar-se e recuperar o fôlego.

“Olá, capitão. Sou o almirante Petersen. Tenho novidades para o senhor e sua tripulação. Parem com tudo o que estiverem fazendo e rumem para a Base Estelar 375 em dobra máxima. Esta é uma mensagem gravada, portanto não tente me perguntar nada. Quando chegar darei maiores explicações. Boa viagem.”

Alkon e Sarah ficam surpresos com o que ouviram. Que missão era esta que os aguardaria?

_Parece que hoje é um dia para emoções inusitadas, não? – pergunta Alkon capiciosamente.

_Acho melhor informar o novo curso ao piloto. – diz Sarah evitando comentar  o comentário de Alkon.

_Sarah..._o capitão chama-a antes de sair – Podemos terminar a nossa conversa durante um jantar?

_Como quiser, senhor. – Sarah sai apressadamente em direção à ponte.

Alkon pede um café no sintetizador e fica a olhar as estrelas, pela escotilha, e sorri.


(1) Deus da verdade e honestidade Betazóide.

Texto por: Marcos De Chiara.

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