domingo, 19 de janeiro de 2014

FB 1 - Mudando as Regras - 3.


FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Mudando as Regras – Parte I
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma
Por Marcos De Chiara

Capítulo III

McCormick esperava um convite como este desde que Allison era apenas uma voz em seu fone de ouvido quando ele era controlador de vôo por simulação na academia e ela uma jovem cadete com uma arrojada técnica de pilotagem. Pego um pouco de surpresa ele só conseguiu falar:

- Você leva a pipoca?

- Pode contar com isso! Espero você lá então. – Allison beija o amigo no rosto e segue para sua cabine para tomar um banho e trocar de roupa.

McCormick acompanha a colega se afastar e fala consigo mesmo, baixinho:

- “Você leva a pipoca?” Estúpido! – ele bate na própria testa desgostoso com sua atitude patética defronte ao seu amor platônico.

Três decks acima o klingon Klag entra em sua cabine após o término de seu turno e solicita ao computador da nave, uma música suave, para, após o seu banho, realizar o seu ritual de meditação.

Klag era um klingon fora dos padrões. Apesar de ter nascido em Q´NoS, planeta capital do império, conhecido pela Federação como Kronos e no passado como Klin, cresceu ouvindo a mãe se queixar das constantes batalhas em que seu pai se envolvia sob pretexto de disseminar a glória do império.

Enquanto seu pai guerreava, ele era condicionado pela mãe, que perdera um irmão e o pai em batalhas, a jamais seguir a trilha do guerreiro. Ela o ensinara arte e cultura, inclusive as alienígenas, para que ele jamais fosse xenófobo como o pai e possuísse uma mente aberta. Isto o fez sonhar em ser escritor, poeta ou músico.

Klag, porém sofreu as pressões sociais, como todo jovem em qualquer mundo, no qual a tradição sempre fala mais alto. Em seu ritual de ascensão prometeu ao pai se alistar, fato que desgostou sua mãe que nunca mais falou com ele.

Seu pai , Krias, era a segunda geração de capitães de naves estelares na família. Seu avô fora o grande Korax. Todavia, durante a guerra civil klingon de 2367, seu pai escolheu o lado errado e foi morto em batalha. Antes de morrer fez Klag prometer manter a casa de Korax e seguir o exemplo de Worf. Krias sabia da competência do filho de Mogh e o quanto se arriscara defendendo a eleição de Gowron para o alto conselho, a fim de recuperar o prestígio de sua casa. Percebeu, tarde demais, que estava errado em lutar ao lado das irmãs de Duras. Gostaria que seu filho fosse tão valoroso quanto Worf e que, se preciso fosse, entrasse até para o programa de intercâmbio com a Frota Estelar. Poderia ser um delírio de um moribundo, mas Klag não o contradisse. Com medo de sua alma ir para Gre´thor, o lugar dos desonrados, e em respeito à agonia de seu pai que durara dois dias até ser realizado o Hegh´bath tay, o ritual do suicídio.

Ao fim da guerra, Klag se apresentou ao recém-eleito Gowron para lhe prestar o juramento de lealdade, contudo ele e sua tripulação, a princípio, foram condenados à morte. Através da intervenção de Kurn, irmão de Worf, eles foram poupados. Kurn conseguiu convencer Gowron que precisariam de guerreiros valorosos para restaurar a paz no império e não poderiam matar ou banir a todos, sob a ameaça do império ficar muito fragilizado. Seria prudente, portanto, que aceitassem as juras de lealdade. Kurn fazia isso porque era amigo de Klag desde pequeno quando fora adotado por Lorgh que por sua vez era amigo de Krias. O laço entre eles era forte.

Sendo assim Klag foi mandado para servir em uma nave patrulha na fronteira com o império romulano e, após três anos, sua inscrição no programa de intercâmbio fora aceito. Foi uma maneira sutil de se afastar dos olhos de Gowron, que o achava uma ameaça; de seus companheiros que o responsabilizaram por não ter aceitado morrer com honra, e cumprir o desejo de seu pai.

Sair de Kronos, na verdade, foi um grande alívio. Estava cansado de seguir velhas tradições de honra. Ele nunca se sentira à vontade em seu próprio planeta e muito menos servindo em uma nave, mesmo ela sendo da Federação. A verdade é que jamais se sentira bem vestindo um uniforme, seja ele qual fosse. Sempre gostara de poder vestir roupas comuns. Fazer o que bem pensasse. Mas ele ainda estava preso a uma dívida de honra e estaria pelo resto de sua vida.

A princípio Klag achou que odiaria ter que conviver com humanos e outras raças. Lembrou-se de sua mãe e procurou manter a mente aberta. Mas seu desconforto era visível. Entretanto havia desenvolvido uma inesperada camaradagem com seus colegas da Federação que o fazia ficar dividido na sua lealdade ao império Klingon.

Durante o banho sentiu saudades de sua família: sua mãe Morel, de sua pequena irmã Belara e de seu grande amor Lurga. Talvez, na próxima licença, voltasse para casa para resolver os assuntos pendentes e não mais fugir deles.

Saiu do banho; enxugou-se; vestiu um roupão; acendeu uma pira no meio da sala, onde se encontrava um pouco de água e algumas rochas; sentou-se no chão e pôs-se a meditar. Tal prática fazia-o controlar a fúria do guerreiro em seu interior. Olhou para a parede de fronte a ele e viu a sua chonnaQ , sua lança do ritual de ascensão que ganhara de seu pai, ladeada por sua mek´leth, a espada que ganhara de seu instrutor na academia klingon ao se formar.

Os vapores das pedras magmáticas da região de No´Mat já estavam envolvendo-o e causando o transe característico do Maj´Qa onde esperava entrar em contato com o espírito de seu pai. Precisava saber se fizera a escolha certa ao seguir o caminho do guerreiro vestindo o uniforme da Frota Estelar.

Klag pôde escutar uma voz:

“Jatlh!” Fale! *traduzido do klingonês.

- Vav ? Pai?

“Estou orgulhoso de você filho...”

- Pai eu não... Eu não quero decepcioná-lo...

“Você precisa ser forte para a grande batalha que virá...”

- Grande batalha ? Do que você está falando ? – neste momento Klag sente que tocam o seu ombro e quando se vira para ver quem era vê seu pai. Ambos estavam nas montanhas de Q´NoS caçando targs como fizeram tantas vezes no passado.

“Um guerreiro não se arrepende da escolha que faz. Veja aquele targ. Ele sabe que não pode conosco, que vai morrer, mas mesmo assim nos enfrenta. É a sua natureza. Lutar até a morte. Morrer com honra!”

- Eu...Eu estou confuso. O que o senhor quer dizer com isso? – Klag ainda estava espantado com a paisagem ao seu redor.

“Filho...- Krias segura os ombros de Klag e o encara – Você saberá o que fazer quando o momento chegar.” – dizendo isto ele pega a sua lança e se afasta.

- Espere. Aonde vai ? Eu tenho tantas coisas para perguntar...

“Voltarei para Sto´Vo´Kor. O retorno do espírito de Kahless está próximo.”
- Espere! – a imagem de Krias desvanece-se bem como todo o cenário à sua volta. Ele agora se via em casa sendo recepcionado pela sua sorridente irmã.

“Oi irmão. Sente-se. Vou pegar um copo de vinho para você. Você está com cara de estar precisando.”

A casa estava cheia de pessoas estranhas. Havia um certo tumulto cujo motivo ele não entendia muito bem.

- Quem são essas pessoas ? – perguntou à irmã quando esta retornou com a sua bebida.

“Você não sabe ? Você não veio para o casamento ?”

- Casamento ? – Klag sentiu seu sangue ferver ao beber o vinho. Então Lurga não agüentou esperar por ele. Traidora, pensou. O ambiente ficou enevoado e uma súbita raiva irrompeu dentro de si. Arremessou sua caneca para longe e esta, ao se espatifar, fez sumir de vez as suas visões.

Ao sair do transe  Klag ainda podia sentir a raiva dentro de si. Seria ciúmes? Como Lurga pôde trair seu juramento ? Seria ela realmente que estava casando ? Certamente que não era Belara. Ela era muito jovem ainda. O certo era que nem sempre as visões refletiam os verdadeiros acontecimentos, mas elas sempre possuíam um fundo de verdade.

Levantou-se, apagou a pira e as velas. Solicitou o computador que ligasse os exaustores no máximo para retirar a fumaça do ambiente e foi beber um pouco de baghol para recuperar-se do choque das visões. Seja o que for que ele tivesse que enfrentar sabia que tinha que estar preparado. Este era o desafio de um guerreiro. Estar sempre pronto para enfrentar o desconhecido. Andou em direção a parede onde estavam as suas armas rituais, pegou sua mek´leth e ficou a exercitar com ela durante toda noite até o cansaço ser mais forte que sua vontade.

Texto por: Marcos De Chiara.

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