domingo, 19 de janeiro de 2014

FB 1 - Mudando as Regras - 2.


FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Mudando as Regras – Parte I
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma
Por Marcos De Chiara

Capítulo II

Sistema Meldrar
Colônia Penal Bajoriana em Meldrar I

Siro Lian estava dormindo quando foram incomodá-lo em sua cela. Há muito não via a luz do sol nem a das outras estrelas. Há muito não conversava com alguém sem que tivesse vontade de socar a cara delas.
Naquela manhã ele seria forçado a entrar em uma conversa que poderia resultar em sua liberdade.

_Siro! Levante! Você tem  visita.

_Ora, Beral, não enche...Deixe-me dormir...

_Se eu fosse você atenderia ao homem. Ou você não quer sair deste buraco ?

_Quem...? – antes de terminar a frase um oficial da Frota Estelar adentrou a sua cela após Beral, o guarda daquele setor, desligar a grade de energia.

_Siro Lian ? A Frota Estelar tem uma proposta a fazer. É aceitar e possivelmente receber o perdão ou mofar nesta lua por mais dez anos.

Siro sentou-se. Tentou ajeitar o longo cabelo para trás e respondeu:

_Estou ouvindo.

O oficial da Frota passou a relatar a proposta de liberdade condicional. Foi a melhor coisa que ouvira nos dois últimos anos. Melhor até do que as piadas sobre cardassianos que Beral contava. Se havia uma chance de sair daquele lugar ele não a deixaria escapar. Fosse ela qual fosse.

USS Albedo – a caminho da base 375
Bar Panorâmico – Deck 2.

A doutora T´Vel estava lendo seus relatórios médicos e tomando uma caneca de mocha vulcano, similar ao  café terrestre, quando observa a imediato entrar no salão com uma aparência aflita. Sarah dirigi-se para o balcão e vai logo falando com Dorn.

_Por favor...Me dê algo que possa me fazer parar de tremer.

_Codrazina ? Ah, Ah,Ah! – Quando o luriano vê que a piada não surtiu efeito disse: _Estou brincando. Bom isso deu pra notar, não é?

_Dorn eu não estou no clima. Não me sinto bem hoje.

_Bom, neste caso, seria melhor falar com a doutora ali. – diz o barman apontando para T´Vel.

_Vocês estão levando muito a sério este intercâmbio. Você agora é conselheiro também?

_Todos os barmans o são, comandante. O que a aflige?

_Escuta! Eu não tô a fim de falar dos meus problemas com você. Apenas me dê algo forte para beber.

_Água de Altair ? – Dorn tentou brincar novamente.

Sarah estava prestes a pular o balcão e servir-se sozinha. A cara que ela fez assustou o luriano. T´Vel se aproximou e tocou o seu ombro.

_O quê ? – Sarah falou com rispidez.

_Calma! Você está mesmo tensa hoje. O que está havendo? – T´Vel faz um sinal para que Dorn se afastasse enquanto ela encaminhava a número um para sentar perto de si. Os tripulantes, que estavam olhando curiosos para a explosão emocional da comandante, fingiram olhar para outro lado quando ela os encarou de volta.

_Você deve se controlar. Estão todos olhando..._comenta a doutora.

_Estou me lixando para isso. Eu só queria... – Sarah põe a mão sobre o seu rosto como que querendo que toda a sua aflição desaparecesse.

_Queria uma desculpa para esquecer o seu verdadeiro problema.

_Exatamente. É difícil esconder algo de você ou DELE. – enfatizou não querendo revelar o nome da única pessoa capaz de mexer com as suas emoções.

_Ah...Então é isso...ELE! – falou T´Vel quase com desdém.

_Psiu! Fale baixo.

_Para quem há pouco estava se lixando pro mundo...

_Às vezes eu penso que suas orelhas são falsas, sabia?– Sarah estava se referindo ao sarcasmo de T´Vel, que era incomum a uma vulcana. – Não está no seu horário de ser conselheira? Você não devia estar atendendo alguém com problemas ou algo assim?

_Minha agenda acabou de ser preenchida. O que houve? – perguntou a doutora como se estivesse em uma sessão de aconselhamento.

Sarah suspirou. Sabia que não poderia fugir daquela conversa com T´Vel e resolveu se abrir. Ela precisava mesmo desabafar com alguém. _Fiz o que você havia me aconselhado quando da nossa última conversa.

_E isto o incomodou.

_Sim. Como você...?

_Esperava por isso. É um bom sinal.

_Bom sinal? Por quê?

_É um sinal que ele realmente sente algo verdadeiro por você.

_Sabe...Nós nos conhecemos desde o tempo da academia. Ele nunca...É claro que saímos algumas vezes, mas nunca... Mas hoje... – Sarah estava exaltada.

_O que aconteceu? – T´Vel parecia curiosa, mas era apenas um meio de incentivar sua amiga e paciente a se abrir.

_Nada. Ou melhor...Quase.

_Quase?

_Ele quase me beijou. – disse em voz baixa – Chamou-me em seu escritório para comentar sobre o meu comportamento arredio... Aí me pegou em seus braços...Oh, meu Deus... Eu quase desmaiei...Eu não devia me portar assim. Não sou mais nenhuma adolescente. Eu já tive outros relacionamentos, mas quando estou perto dele minha cabeça fica zonza.

_Isto é muito bom! Estamos fazendo progressos! Por que não se beijaram?

_Fomos interrompidos por uma mensagem que chegou da Frota.

_Que pena! – T´Vel se compadeceu do infortúnio da amiga.

_Pena? Eu pensei que o objetivo era me fazer esquecê-lo. Você havia me dito que eu deveria me afastar de um sentimento que me fazia mal.

_Isto é correto. O sentimento de rejeição. Mas ele não existe mais, não é? Ademais existe um velho ditado na medicina que diz: “A cura de uma doença vem do próprio veneno que a causa”.

_Eu não fui mordida por ele.

_Não literalmente. Ainda.

_T´Vel! – Sarah fica ruborizada com a falta de pudor da vulcana.

_Desculpe. Estava tentando amenizar a tensão. Brincadeiras deste tipo os humanos fazem o tempo todo, não é mesmo? Acho que desenvolvi um pouco de humor. Você sabe, são muito anos de convivência com vocês.– T´Vel estava justificando seu comportamento pouco ortodoxo quando Sarah a interrompeu.

_Ah, T´Vel... O que eu faço agora? Ele me convidou para jantar hoje.

_Então jante com ele. Neste assunto devemos apenas seguir o curso dos eventos.

_Você é muito prática.

_É a lógica. Sou vulcana, lembra-se?

_Quando a conhecemos bem a gente quase esquece disso. – brinca Sarah demonstrando estar mais relaxada – Me sinto tão confusa...

 _Sarah... O que você sente por ele realmente?

_Não sei se é amor. Eu sempre o admirei. Ele era jovem prodígio quando o conheci. Ele era brilhante. Ele estava um ano adiantado e eu estava estudando na biblioteca quando ele se ofereceu para me ajudar com os estudos de cinemática vetorial em gravidade zero. Depois disso nos tornamos muito companheiros. Quando me formei ele já era alferes, mas fazia serviços burocráticos. Ele foi a minha formatura, nos despedimos e nunca mais nos vimos.  Há dois anos eu estava com a minha transferência quase certa para ser a Oficial tático da USS Cairo quando Dorian convidou-me para integrar sua equipe na USS Babel. Então todo aquele sentimento voltou. Não queria perder a chance de estar perto dele novamente.

_O capitão Jellico perdeu uma ótima oficial.

_Creio que ele ficou decepcionado. Sabe quanto tempo eu fiquei atrás deste posto? É a segunda melhor nave da Frota. Suas exigências são altíssimas. Meu currículo já havia sido aceito. Mas...São as coisas do coração e isto falou mais alto do que qualquer anseio que eu tinha pela minha carreira. Gostaria de não ser tão passional. Eu fui uma burra!

_Você é humana. É compreensível a sua conduta. Agora devemos avaliar esta sua dependência. Amor tem que ser algo que nos complementa e não algo que nos vicie. Que seja uma obsessão. Está claro que alguma coisa ficou mal resolvida entre vocês no passado.

_Você já amou alguém, T´Vel ?

_Sim, mas não tente se desviar do assunto me colocando no meio.

_Tá bom. Tá bom. O negócio é seguir ao sabor da maré, não é? Ok. Que assim seja.

_Coragem, Sarah. Pelo menos é ele que agora quer tocar no assunto. Você é que está na posição de controlar a situação. E jamais se arrependa de tentar ser feliz.

_Obrigada, T´Vel. – Sarah segurou as mãos da doutora em um gesto de agradecimento – Eu sabia que nós íamos ser boas amigas.

_Está vendo? Você sabe avaliar as pessoas tão bem quanto eu. No início eu não ia com a sua cara. Não é assim que vocês dizem?

_Ora, você não ia com a cara de ninguém.

_Isto é incorreto. Eu apenas não queria dividir a minha privacidade. Contudo, depois de tudo que passamos juntas, eu aprendi a confiar um pouco mais nas pessoas. Hoje você, o capitão e Dorn são os meus melhores amigos.

_Oh...Dorn! – disse Sarah como se lembrasse de algo – Eu o tratei tão mal, não foi ? Me dê licença. Eu devo me desculpar com ele.

_Fique a vontade. Depois nos falamos.

Sarah levanta-se e retorna até o balcão do bar onde o luriano estava se despedindo de um tripulante.

_... e lembre-se... É só colocar uma gotinha de limão. Tchau! Sim, comandante ? Em que posso servi-la?

_Pode começar me desculpando pelo meu rompante ainda há pouco.

_Oh, não é preciso! A doutora T´Vel falou que as mulheres humanas passam por isso vez ou outra. – o luriano estava confundindo o comportamento da comandante com outra coisa, mas Sarah resolveu não se explicar mais e deixar que ele pensasse o que quisesse.

_Para esquecer o incidente que tal um milk shake de chocolate ktariano? Creio que aumentará o seu nível de serotonina e a deixará bem tranqüila.

_Você conhece fisiologia humana?

_A Dra. T´Vel tem me ajudado nisso. “Nós somos o que comemos”. Já ouviu isto? É muito interessante o efeito da comida em nossas vidas. Estou estudando para ser o melhor nutricionista da Frota. Veja...Eu deixava no balcão ervilhas gramelianas como tira gosto. Algo que aprendi quando trabalhava em bares não muito...como direi...bem freqüentados. Bom... Estas ervilhas ressecam glândulas salivares e fazem os clientes beberem mais, e, naturalmente, o bar fatura mais. Mas aqui não há esta necessidade. Então o capitão me fez ver que sementes de abóbora, amendoins ou feijões locar seriam mais adequados. Uma vez, em Rigel II eu...

Sarah ficou escutando o luriano por mais alguns minutos. Se queria esquecer de seus problemas, as histórias de Dorn certamente a ajudaria.

T`Vel ficou olhando os dois à distância. Ficou satisfeita de ter salvo a vida de Dorn e convencido o capitão a incorporá-lo na tripulação.

Há três meses a nave onde Dorn trabalhava estava perdida nas Badlands. Quando a doutora foi cuidar dos feridos, Dorn pediu asilo na nave. Ele havia se desentendido com o capitão anaxariano que o jurara de morte. Os lurianos eram contratados pela  sua força e resistência para trabalharem em cargueiros. Dorn sempre desejara ter um restaurante e exercitar o seu maior pecado: a gula. Em seu planeta natal, super povoado, o alimento era racionado e as regras de convívio social eram muito rígidas. Seu povo era infeliz e pouco criativo. Viviam apenas por viver. Ele pensava em obter um pouco de liberdade ao fugir, quando garoto, no primeiro cargueiro em que pode se esconder. Mas, neste último, pela primeira vez, depois de muitos anos no espaço vendo de tudo um pouco,  passou a questionar as atitudes do capitão quanto ao tipo de carga que estavam transportando. Fato que não agradou muito, mais ainda quando Dorn jogou fora no espaço a carga que transportavam, durante uma tempestade nas Badlands. Eram armamentos para os maquis. A chegada da Albedo foi providencial. Os anaxarianos não puderam reclamar da carga sob pena da Frota Estelar os prenderem. Foi aí que a ameaça de morte ocorreu. Alkon não pôde provar que os anaxarianos eram contrabandistas de armas e os liberou para partir após dar assistência nos consertos do cargueiro. O capitão anaxariano jurou vingança.

Mais tarde, Alkon confrontou Dorn e este confessou o real motivo de seu asilo. O capitão, por causa do gesto a favor da paz cometido pelo luriano, resolveu não entregá-lo às autoridades e dar-lhe uma segunda chance para mudar a sua vida. É claro que a interferência de T´Vel contou pois ela havia tido simpatia por ele. Como ela mesmo costumava dizer: “ Compaixão era a única emoção a que ela se permitia.”

Dorn havia progredido muito nestes últimos meses e a doutora estava orgulhosa (outra emoção que ela possuía mas não admitia), por ter encaminhado uma alma perdida para o mundo do bem. Esperava agora poder ajudar Sarah e Alkon a resolverem seus problemas amorosos e, quem sabe, testemunhar uma união feliz.

  
Texto por: Marcos De Chiara.

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